Na semana passada, a rachadura em uma viga da ponte entre Uruguaiana, na Fronteira Oeste, e Paso de Los Libres, na Argentina, expôs desatenção com o comércio exterior no Mercosul. A travessia foi interrompida para caminhões por três dias e, após reabrir, continua com restrições de fluxo.
Desde sexta-feira, entretanto, depois de uma publicação no Diário Oficial da União, o principal corredor rodoviário do Brasil com o país vizinho está em situação de emergência e no aguardo da contratação dos serviços de reparo que podem levar um ano, com prejuízos inestimados ao tráfego de mercadorias internacionais.
Se a ponte de Uruguaiana, inaugurada em 1947, terá remendos estruturais, em São Borja (a alternativa imediata aos contratempos que se anunciam) o remendo ocorre nas regras da concessão. É que o segundo maior corredor logístico do RS, em atividade a partir de 1997, foi entregue ao setor privado por 25 anos.
Vencido o prazo, houve renovação emergencial por 12 meses no ano passado. Em agosto de 2022, com a ausência de novo edital de concorrência, outro remendo no acordo bilateral permitirá que a mesma empresa concessionária continue a explorar o Centro Unificado de Fronteiras (CUF), sem que contrapartidas — como a debatida retirada do pedágio vicinal para os moradores de São Borja e Santo Tomé, na Argentina — estejam no papel.
Em resumo: com distintos modelos, as aduanas das pontes gaúchas, de Uruguaiana (estatal) e de São Borja (privada), evidenciam brechas de gestão que afetam as relações com a Argentina, o maior parceiro comercial do RS e o terceiro do país.
Juntas, até setembro, movimentaram US$ 11,74 bilhões — US$ 6,24 bilhões por Uruguaiana e US$ 5,5 bilhões por São Borja. Ou seja, mais da metade do volume das importações e exportações entre o Brasil e a Argentina em igual período: US$ 20,9 bilhões.
Frente aos números, por que ainda parece faltar interesse em pontos estratégicos para o agronegócio e para a indústria automotiva e calçadista, entre outros mercados dependentes dos corredores gaúchos? Em períodos como o atual, é clichê ouvir falar em “derrubar muros e construir pontes”. Só que, na prática, os cuidados com as já existentes precisam avançar.