Entre os povos que imigraram para o Rio Grande do Sul, estão os pomeranos, que se diferenciam dos demais por uma característica atípica: seu país de origem não existe mais.
A Pomerânia era uma província do antigo Reino da Prússia, que deixou de existir após a Primeira Guerra Mundial, e teve seu território desmembrado no fim da Segunda. Em 1945, a Pomerânia também foi dividida, com 75% do território hoje pertencente à Polônia, e 25% parte da Alemanha.
Algumas décadas antes, pomeranos começaram fugir de perseguições e guerras com países vizinhos, como o Império Russo (hoje, soa até familiar). O Brasil foi um dos destinos, com foco em Espírito Santo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde se concentraram em São Lourenço do Sul a partir de 1858.
Quase 150 anos depois da chegada dos primeiros 88 imigrantes, a comunidade montou uma associação para resgatar a história que chegou a levar 4 mil pomeranos à região, e reforçar a presença dessa cultura no Estado e no Brasil.
— A Associação do Caminho Pomerano foi fundada em 2005, para resgatar a cultura e a história que permanecem graças aos descendentes que se espalharam pelo mundo — afirma Rodrigo Seefeldt, que integra a entidade e conduz os passeios.
Desde 2006, o Caminho Pomerano oferece um roteiro que passa por empreendimentos relacionados aos pomeranos em São Lourenço do Sul. Uma das principais atrações é Memórias Und Andenken, um museu interativo com painéis interativos e acervo de carros antigos, objetos, fotos, artesanato e roupas centenárias.
E os negócios? Estão no caminho. A Casa das Cucas Pomeranas vende, além do produto que está no nome - os destaques são a "de açúcar" e a de pêssego -, bolachas e pães. A propriedade da família Klasen cria animais, produz queijos e uma iguaria pomerana: peito de ganso defumado. Também passa pelo espaço de plantas e ervas de Inêz Klug, que cultiva plantas e ervas medicinais, além de produzir o Maischnaps, cachaça feita de ervas.
Os visitantes podem conhecer até 10 empreendimentos no roteiro que pode ser programado conforme as preferências. Ao longo do passeio, guiado por Rodrigo e pela turismóloga Ana Jane Saraiva, há também relatos históricos e encenações artísticas, como a interpretação da tradição pomerana da "noiva de preto".
— Tem origem no período feudal, quando o senhor exigia que a noite de núpcias das jovens fosse com ele. As noivas casavam de preto em protesto contra essa exigência. A tradição da cor chegou inclusive a São Lourenço do Sul, onde até a década de 1940 as noivas ainda casavam com vestidos pretos — explica Rodrigo.
Desde que começou a receber turistas, em 2006, o Caminho Pomerano atrai em média cinco mil visitantes por ano, entre famílias, alunos de escolas e de universidades, e pesquisadores, todos curiosos para saber mais sobre uma cultura que sobreviveu a perseguições, ao passar dos séculos e até ao fim do seu país de origem.
Serviço: com roteiro completo, o passeio dura um dia inteiro, com parada para o almoço. O valor varia com o número de pessoas e de atrações visitadas. A associação recebe pequenos grupos ou excursões mais numerosas, mas todas as visitas devem ser agendadas para combinar a programação.
Essa seção inclui experiências acumuladas ao longo da pandemia e sugestões de leitores. Quem quiser indicar pequenos negócios que se tornam grandes passeios pelas atrações que oferecem, podem mandar pelos e-mails marta.sfredo@zerohora.com.br e mathias.boni@zerohora.com.br, ou deixar aqui nos comentários.
* Colaborou Mathias Boni