Uma nova onda de temor de recessão global nesta terça-feira (5) faz o preço do barril de petróleo tipo brent cair 9%, para US$ 103,16 no início da tarde. Um dos motivos é um relatório do Citigroup, respeitado banco global, que projeta queda na cotação do óleo cru para US$ 65 no final deste ano e US$ 45 no fim de 2023.
Esse cenário se configuraria, conforme os autores, caso se confirme a queda prevista na atividade econômica de vários países e se a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) não agir para segurar o mercado, reduzindo a produção.
Embora o barril a US$ 65 pareça quase inacreditável neste momento, o fato de a projeção ter afetado a cotação do barril no dia mostra que é levada a sério no mercado. A estimativa dos economistas Francesco Martoccia e Ed Morse é baseada na observação de que, em períodos de recessão, o preço do petróleo cai. É um fato, porque a redução na atividade econômica faz a demanda por energia diminuir. A grande incógnita é como a Opep reagiria.
O petróleo começou a subir ainda antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, exatamente porque havia estimativa de alta no consumo pela redução das restrições provocadas pela pandemia. A guerra elevou ainda mais os preços pelo temor de que provocasse problemas de abastecimento. A cotação do brent chegou perto de US$ 140 por barril no auge do estresse com efeito de sanções contra a Rússia.
No Brasil, a preocupação com a queda na atividade econômica global levou o dólar para R$ 5,39 e faz a bolsa cair 1,5%, para 97 mil pontos. Uma das dúvida que a projeção do Citigroup levanta é se o Brasil não criou uma despesa evitável para compensar uma alta nos combustíveis que, caso esse cenário se confirme, será de curto prazo.
As tentativas de reduzir o impacto da alta dos combustíveis (8)
1. A PEC dos Benefícios: nascida para baixar tributos sobre combustíveis, virou um "pacote do bem", com aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e voucher-caminhoneiro de R$ 1 mil. O custo está em cerca de R$ 41,5 bilhões, mas a Câmara quer acrescentar "bondades" que poderiam fazer a conta passar dos R$ 50 bilhões.
2. Aprovada e aplicada em ao menos 21 Estados: teto de 17% a 18% de ICMS para combustíveis, energia, transportes públicos e comunicações. Entrou em vigor em ao menos 21 Estados, incluindo o Rio Grande do Sul.
3. No telhado: o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) cogitou mudar a Lei das Estatais, que blinda as empresas públicas de influência política direta. Seria para permitir "sinergia" com o governo. Parece ter sido engavetada, mas há sinais de que só aguarda um momento mais propício para voltar ao debate.
4. A caminho: a troca no conselho e na diretoria da Petrobras é uma tentativa de mudar a política de preços da estatal. Uma assembleia geral de acionistas está marcada para este mês e deve mudar a composição do conselho de administração para abrir caminho a uma mudança na política.
5. Cortina de fumaça: a suposta privatização expressa da Petrobras, nos mesmos moldes da Eletrobras, via capitalização, é considerada a pior das hipóteses, por substituir um monopólio estatal por outro privado. Os preços subiriam em velocidade ainda maior.
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto de petróleo cru quanto de derivados, como o diesel. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia que funciona como um seguro contra perdas.