O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Grandes centros urbanos enfrentam diariamente inúmeros problemas que refletem de forma direta na vida dos cidadãos. Colocar os indivíduos como protagonistas das ações, com soluções inovadoras e criativas, foi a proposta do MBA Cidades Responsivas, oferecido pelo Instituto Cidades Responsivas, que integra o Grupo Ospa. Os 44 alunos apresentaram 14 projetos finais e quatro deles foram escolhidos para serem incubados pela Tijolo Hub, ecossistema de inovação instalado no Instituto Caldeira e voltado para os setores da construção civil e mercado imobiliário.
O conceito de "cidades responsiva" é uma evolução das "cidades inteligentes", (smart cities), que surgiram a partir das necessidades de uma sociedade amparada na tecnologia para gestão dos serviços públicos. No caso das cidades responsivas, a autonomia do próprio cidadão, responsável por produzir dados e padrões capazes de gerar inteligência do ambiente urbano, ganham relevância.
Entre as ideias estão uma plataforma de gestão de impactos ambientais em condomínios, uma moeda urbana para valorizar o patrimônio histórico, um ecossistema de moradia social e galerias de artes que utilizam a realidade aumentada em NFTs (Non-fungible Token) geolocalizadas. Os projetos foram selecionados por uma banca formada pelos professores do Instituto Cidades Responsivas e convidados, além de profissionais do mercado.
A partir de agora, os quatro grupos irão participar, durante seis meses, de mentorias com a Tijolo Hub para tirar as ideias do papel e transformá-las em produtos. Durante o processo, farão uma revisão e adequação quanto às propostas de valor, de mercado e de produto; irão desenvolver o MVP (produto mínimo viável), a tecnologia necessária e buscar conexões com o mercado.
Segundo a diretora do Instituto, Luciana Fonseca, desde o início do curso os alunos são instigados a encontrar soluções inovadoras que possam ser entregues à sociedade a fim de tornar as cidades mais responsivas.
– Criar essa conexão do estudo acadêmico com a prática, incentivando uma maior participação dos usuários, faz com que o aprendizado seja mais completo. Como resultado, tivemos projetos criativos que podem trazer avanços significativos para as comunidades – explica Luciana.
Conheça os projetos incubados
Ecossistema de moradia social
Moradia é uma problemática em diferentes regiões do Brasil e do mundo. Ao pensar que um empreendimento poderia contribuir com o desenvolvimento das pessoas com baixa renda, foram desenvolvidos os Ecossistemas Habitacionais de Inovação Social. A plataforma irá englobar as necessidades de cada comunidade onde for instalada, com a proposta de levar qualidade de vida e de moradia a todos com opções de lazer, educação, bem-estar, etc. Dessa forma, seriam vendidas unidades para investidores para que sejam alugadas por parte da população que não tem possibilidades de financiamento. “Para que o ecossistema seja replicado em qualquer lugar, é preciso pensar no que é necessário para se viver ali. Não se trata só de moradia, mas de um conjunto de soluções para garantir melhorias para essa parcela da sociedade, que sonha com uma moradia de qualidade”, defende Lucas Formenton.
Acesso online à cultura
O acesso à cultura no ambiente virtual é a proposta da Metagallery, um aplicativo que busca explorar o consumo da arte a partir de uma experiência interativa de realidade aumentada em NFTs (Non-fungible Token) geolocalizadas. Com o uso de câmeras, seria possível vivenciar exposições virtuais nas ruas, em comunidades ou até mesmo em espaços relevantes no meio artístico, frequentados fisicamente para esse fim. “É uma ferramenta de entretenimento, mas que também pode resultar em geração de renda para comunidades, com a proposta de que mostras fossem criadas nesses cenários e as vendas das obras fossem revertidas em recursos para impactar no meio em que está inserida”, explica Bruno Cruz.
Gamificação de impactos ambientais em condomínios
Promover uma intervenção positiva e difundir a prática de ações para regenerar o meio ambiente foi o propósito para o desenvolvimento da Plataforma de Autogestão de Impactos Ambientais para Unidades Residenciais. A ferramenta monitora o consumo energético, elétrico e a geração dos resíduos em um ambiente gamificado e, a partir da análise individual, gera um ranking, com indicadores de sustentabilidade, dentro de um mesmo condomínio, que dará benefícios aos melhores posicionados. “A sustentabilidade tem o conceito de manter o ambiente da forma que está, mas já vivemos um cenário altamente impactado pelos seres humanos. Queremos ir além e regenerar, fazer a diferença”, diz Levi Coelho, um dos integrantes do projeto.
Moeda Urbana para imóveis tombados
Qual o valor dos imóveis tombados e como incentivar que eles sejam preservados? Um dos desafios atuais de uma cidade responsiva é buscar um equilíbrio entre o passado e o futuro. Dessa forma, por meio de uma plataforma digital, será possível comprar e vender as chamadas Unidades de Transferência do Direito de Construir (UTDC), a moeda urbana dos edifícios tombados. A organização desse mercado, no ambiente digital, vai garantir mais liquidez, ampliar o número de participantes, tanto de compradores quanto de vendedores, agilizar o processo de oferta e trazer transparência para as negociações. “Nos grandes centros das cidades brasileiras é comumente percebido um número elevado de edificações degradadas e abandonadas pela falta de programas de estímulo à preservação, elevando o grau de insegurança, discriminação e insalubridade. Áreas importantes e com boa infraestrutura são depreciadas, expulsam novas oportunidades e impedem o seu desenvolvimento”, destaca Branca Cheib.
* Colaborou Mathias Boni