Sim, a coluna já escreveu sobre os riscos e oportunidades de usar os recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para comprar ações da Eletrobras. Mas precisa voltar ao assunto porque o prazo termina nesta segunda-feira (6) para quem quer migrar dos fundos de Petrobras e Vale, e na quarta-feira (8) para quem quer fazer nova aplicação.
O que deve definir a decisão? A cautela. O FGTS, é bom lembrar, é uma poupança forçada, mas que representa um socorro diante de alguma situação inesperada, como demissão ou doença. O problema é que rende pouquíssimo: neste momento, mal cobre um quarto da inflação em 12 meses - remunera 3% ao ano quando o IPCA está em 12%.
Como o limite para usar o FGTS na Eletrobras vai até a metade do que cada trabalhador tem acumulado, a tentação é se jogar com o valor máximo permitido. Aí é que precisa entrar a cautela: sua reserva forçada será aplicada em um fundo de ações que tanto pode ter ganhos extraordinários quanto severas perdas ao longo do período em que se mantiver lá.
Só para exemplificar, se a queda nas ações da Eletrobras somarem 50% em um determinado período, o cotista poderá perder um quarto de todas as suas reservas. Não é bom, certo? Então, melhor evitar ir com muita sede ao pote. Por outro lado, o valor mínimo, de R$ 200 por pessoa, não vai fazer diferença. Protege de perdas, mas não vai dar retorno visível se as ações decolarem.
Por isso, o mais indicado, conforme analistas, é limitar a reserva a cerca de 10% do valor total no FGTS. Quem tem menos de R$ 50 mil no fundo pode arriscar um pouco mais, mas não é aconselhável a passar de 20%. Assim, é possível colher algum ganho se houver valorização acentuada, sem correr o risco de ver minguar a tal poupança forçada.
Para lembrar, os fundos mútuos da Petrobras se valorizaram 1.236,2% entre agosto de 2000 e maio de 2022, ante 152,7% no FGTS. No caso da Vale, ganharam 3.426,4% ante 133,4% no FGTS. A coluna repete a advertência que aparece em todas as oportunidades no mercado de renda váriavel: ganho passado não garante rendimento no futuro.
Como será a operação
Seu dinheiro do FGTS será usado no processo de capitalização da Eletrobras que vai terminar com a estatal privatizada na próxima sexta-feira (10). A companhia vai vender novas ações no mercado, e a União, que hoje é controladora, não comprará. Assim, vai encolher sua fatia na empresa e deixar o controle em mãos privadas. Só se saberá em quais mãos ao final do processo. A expectativa é de que haja venda pulverizada, ou seja, não seja definido um novo controlador privado.
Para autorizar esse processo, o Congresso instalou um jabuti: exigiu que os novos controladores invistam em cinco térmicas a gás em regiões onde gás não há. Ou seja, será preciso construir gasodutos, elevando o investimento para muitas dezenas de bilhões. Por isso, muitos defensores de privatizações prefeririam que essa não avançasse. Ou seja, risco não falta. Pode ser compensador, mas para investir é preciso ter consciência de que existe.