O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Antonio Jou Inchausti é CEO da Polo Films, empresa gaúcha produtora de filmes de Polipropileno Biorientado, utilizados no segmento de embalagens. Participante do fórum da Associação Brasileira do setor (ABRE), em 2022, ele traça os desafios para a sustentabilidade e as incertezas no mercado.
A busca por sustentabilidade também altera as cadeias e reorganiza o produto final?
Esse filme, por exemplo, substitui outros dois ou três materiais diferentes em um só. Então, haverá uma reorganização natural. É curioso, porque fazemos filmes plásticos e vemos muitas coisas horríveis associadas ao plástico, como as cenas nos oceanos repletas de materiais. Mas, nem todo mundo sabe, que quando as embalagens plásticas foram introduzidas na metade do século passado, elas vinham como uma solução ambiental, porque consumem menos recursos naturais do que as alternativas existentes, são mais leves e, por essa razão, demandam quantidade menor de caminhões no transporte dos produtos embalados e reduz-se, inclusive, a emissão de gases do efeito estufa. Além disso, há um fator social, pois a embalagem plástica é barata e permite que mais pessoas tenham acesso a produtos seguros embaladas que de outra forma talvez não se teria, ainda mais no Brasil, onde qualquer diferença de centavos modifica a decisão de compra. Outra coisa é que aumenta a durabilidade dos produtos, o que é um efeito positivo, pois a própria degradação do alimento gera gases do efeito estufa. Se eu tenho menos desperdício de comida necessito de menos terra para plantar gado. Como o crescimento da população e do consumo gerou um problema, estamos discutindo soluções para o mundo inteiro, com novas alternativas. Estou confiante de que teremos soluções fantásticas, as indústrias e os donos de marcas estão conscientes e assumiram compromissos globais. Essa pressão da sociedade está surtindo efeito e traz soluções. Hoja, a Polo atua muito no setor de alimentos, massas, biscoitos, salgadinhos, rótulos de refrigerantes, etiquetas para produtos de limpeza, fitas adesivas, etc. As etiquetas tiveram crescimento exponencial com a explosão do e-commerce durante a pandemia, pois são um produto versátil.
Durante a pandemia a elevação dos insumos foi uma constante na indústria. A Polo percebeu isso nos próprios custos e também no repasse para os seus produtos, que servem de insumos para outros setores?
Muito dos aditivos utilizados no nosso produto vem da Europa. Com a guerra na Ucrânia, o custo de energia disparou e os produtores de matérias-primas europeias estão repassando esses custos adicionais no valor dos produtos. Claro, já tínhamos um desarranjo das cadeias logísticas internacionais, com fretes altíssimos e acompanhamos isso de perto porque são diferenças importantes nos custos. Na verdade, nos abastecemos muito da Braskem, com cerca de 80% e 20% de fora. São produtos diferentes dos que a Braskem fabrica. Entre eles, estão resinas selantes, aditivos deslizantes, porque o filme plástico quando entra na máquina dos clientes precisa de velocidade e é necessário que deslize para dar produtividade na máquina. É curioso que, dependendo da aplicação, requer que ele não deslize. Todas as propriedades do filme conseguimos através dessas aditivações.
Nesse aspecto, como o "vende-não-vende" da Braskem influência o setor? Há preferência por um modelo de acionista (fundo estrangeiro ou empresa nacional)?
Não acredito que haverá mudanças significativa de curto prazo na empresa, independentemente, de quem venha a ser o novo acionista majoritário. É uma empresa de capital aberto, com ações negociadas na B3 (bolsa de valores), em Nova York e tem um sistema de compliance (regulamentos internos e externos) muito sofisticado e pesado. Nesse contexto, qualquer mudança de controle acionário deverá manter a mesma linha de hoje. Até porque, os preços de resinas petroquímicas são internacionais e Braskem acompanha esses valores. É quase uma commodity. Também penso que não haveria efeito no direcionamento de produtos ao mercado externo, porque a lógica do negócio permanece a mesma. Claro que aqui dentro tem um custo logístico menor e tem eventualmente até uma margem maior nas vendas nacionais do que teriam se tivessem que levar para a Ásia, por exemplo. Então, independentemente do comprador, os fundamentos econômicos do negócio Braskem/Petroquímica estão mantidos, são fundamentos regulados por um mercado internacional e não deverão mudar em função do controlador.