O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Após inaugurar a sua 10ª fábrica – a terceira fora do RS – a gaúcha Tramontina entra de vez no mercado de porcelanas. Diretor do conselho da administração da empresa, Clovis Tramontina, fala sobre os atrativos que levaram 350 empregos na primeira fase e R$ 400 milhões em investimentos para o Estado de Pernambuco. Unidade de Moreno, a 30 km de Recife entrou em operação na semana passada.
Por que Pernambuco?
A Tramontina é gaúcha e nossa principal indústria está no Rio Grade do Sul. Nos perguntam se vamos sair do RS, mas a resposta é jamais. Uma empresa, segundo meu pai dizia, tem que ter raízes. E temos raízes consolidadas por mais de cem anos. Em Recife, o que aconteceu foi uma grande oportunidade. Em 2012, conheci o então governador Eduardo Campos (falecido em 2014). Ele insistiu e disse queria uma fábrica no Estado. Respondi que já tínhamos uma (de plásticos), mas ele insistiu e ofereceu o terreno, incentivos fiscais, mão de obra e um porto (de Suape) que colocaria em poucos dias os produtos na Europa e na África. Não tínhamos projeto, mas, mais tarde resolvemos ir adiante. Havia outro detalhe: o dinheiro. Pensamos em levantar financiamento com o crédito da Tramontina. Aí entraram os bancos, tanto o BNB (Banco do Nordeste), quanto o Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), este último pela inovação, envolvida e o BNB mais na infraestrutura. Foi muito simples e objetivo, tínhamos crédito e história de bons pagamentos.
E quais foram os benefícios ?
Em Pernambuco, há desconto de até 85% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Na região da caatinga chega a 90%. Precisávamos de algo assim para a nossa metade sul (do RS). Do contrário, não se cria nada. Dos R$ 400 milhões, um terço foi para estrutura, terreno, construção, outro para a linha de preparação de matéria-prima e outro para a automação. Conseguimos um financiamento de longo prazo, com 12 anos de carência. Ou seja, vamos pagar esse empreendimento com o faturamento dele próprio.
Como ficaram os tributos?
Em Pernambuco, o ICMS é de 18% para o Estado e de 12% para fora. Na média, o ICMS deve representar não mais do que 3,5% da carga na fábrica. Não há como o RS chegar nesses patamares. Além disso, em Pernambuco, os partidos políticos cuidam do Estado, seja qual for a siga, não há Gre-Nal para se investir como no RS. O incentivo do ICMS tem regras. Serve para reinvestimento, não pode ser sacado como lucro. É válido por 12 e renovável por mais 12. Outra sacada genial do Estado do Pernambuco foi a criação de uma agência de atração de investimentos, como um projeto de Estado e não do governo A ou B. E, olha, eles são bons nisso.
A localização também atrai?
Imagina estrategicamente, estar há poucos dias da África e da Europa. No RS, discutimos o porto de Arroio do Sal há quanto tempo? Outra estratégia é que o arco metropolitano do Pernambuco nos deixará a 14 km de Suape. Estamos a 350 km da matéria-prima, que em boa parte vem do Sertão da Paraíba, que gera a barbotina líquida para fazer as xícaras e o pó atomizado que usado para a fabricação dos pratos. O que é bacana é que todo mundo tem carteira assinada, com inovação de máquinas e de processos. Tenho certeza que pela qualidade do produto e por ser uma porcelana legítima que o mercado mundial aceita teremos de 30% a 40% da produção destinada às vendas externas. A ideia é trabalhar nas linhas com várias categorias de preços.