Não houve "pílula de veneno" que travasse o negócio, e Elon Musk, fundador da Tesla e da SpaceX, virou o novo dono do Twitter. Caso mantenha seu interesse no negócio e não volte atrás no que tem escrito, essa "praça pública de fato", como chamou a plataforma, pode arrumar encrenca com o Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil.
Uma das alegações de Musk para a aquisição hostil — quando o dono não quer vender — foi exatamente a adoção de algum tipo de controle, ao que se opõe.
Para lembrar, tudo começou no próprio Twitter: foi em um post na rede que Musk anunciou a intenção de fazer oferta para assumir o controle da empresa, na quinta-feira retrasada (14). O valor de US$ 54,20 por ação representava total de US$ 43 bilhões. Ao que tudo indica, a quantia foi elevada para US$ 44 bilhões. Parecia mais uma do rei da zoeira bilionária, que já vendeu lança-chamas e apoiou crioptomoedas baseadas em memes. Desta vez, não era.
Não só pelo valor — a aquisição está entre as 15 maiores já realizadas no mundo —, esse é um negócio histórico, tanto do ponto de vista econômico quanto do político. No universo simbólico, trata-se do homem mais rico do mundo comprando a praça pública de fato, como ele mesmo definiu o Twitter. No universo do debate sobre liberdade de expressão, é um ponto de virada significativo.
Musk já foi conselheiro de Donald Trump. O tom de suas críticas à suposta "ameaça à democracia" representada pelos controles de inverdades adotados muito a contragosto por algumas ferramentas digitais aumentou depois do banimento do ex-presidente americano. Mas se Musk fosse fácil de classificar, não teria transformado o que todos interpretaram como uma ironia em um negócio de verdade, e multibilionário. Ele não cabe no carimbo de "trumpista". Dependendo do lado que for visto, pode ser muito melhor ou muito pior do que isso.
No próprio Twitter, a iminência da compra, depois das negociações do final de semana, fez subir o assunto "#RIP Twitter" (descanse em paz, em tradução literal, na prática um diagnóstico de morte). O Twitter vai morrer? Provavelmente, não. Pode se transformar, virar outra coisa. Até uma rede social de fake news. Nesse caso, Musk terá posto US$ 44 bilhões no lixo.
Outra "promessa" de Musk foi fechar o capital do Twitter, ou seja, transformar-se realmente no único dono e senhor da plataforma. Até agora, o homem mais rico do mundo fez muita palhaçada, com o perdão da palavra. Mas todas o fizeram ainda mais rico. Ele pode ser excêntrico, mas ainda não queima dinheiro. Depois da oficialização do negócio, Musk fez um novo tuíte:
Para lembrar
Musk já era o maior acionista individual do Twitter, com cerca de de 9% de todas as ações da empresa. No processo, deixou claro que seu objetivo não era só econômico: disse que sua motivação seria "ter uma plataforma pública que seja o mais confiável possível e amplamente inclusiva", por considerar que isso seria " extremamente importante para o futuro da civilização". Antes, já havia afirmado que o principal problema do Twitter não era o "abuso" mas a "censura" e acusado a rede de "ameaçar a democracia":
Para Musk, o Twitter parece ser mesmo a "praça pública de fato", porque a usa dessa forma, mas despreza o fato de que é, também, um negócio sujeito a regras. O comportamento excêntrico do bilionário gerou uma farta de produção de textos na tentativa de interpretar suas ações. Em um deles, o diagnóstico é que ele controla Tesla, Space X e The Boring Company (uma atividade menos conhecida, mas que já nasceu cercada de polêmica), mas sua atividade favorita parece ser tuitar.
Enquanto isso, ele se divertia com as reações a seus emojis (um tuíte comenta sobre sua resposta com um emoji mostrando a língua e ele reage com outros dois de gargalhada):