Na primeira discussão do Fórum da Liberdade 2022, que neste ano tem como tema a pergunta Você é Livre para Discordar?, a concordância dominou a conversa entre Fernando Schüler, doutor em Filosofia e mestre em Ciências Políticas, e Luiz Felipe Pondé, filósofo e escritor.
Ambos fizeram críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) ao abordar o tema Quais os Limites da Tolerância? durante o almoço de abertura do evento.
Pondé, que abriu a conversa, mencionou "ameaças à discordância liberal" e citou recentes decisões do STF. Schüller não mencionou explicitamente a corte, mas lamentou que "algumas das figuras da República" estejam "atrás de 1644". Nesse ano, ponderou, John Milton fez uma histórica defesa da liberdade de expressão no Parlamento inglês, conhecida como Areopagítica.
Para demonstrar que não falavam só na teoria, ambos citaram casos recentes e polêmicos, como o de Bruno Aiub, conhecido como Monark, que foi desligado de sua empresa, Estúdios Flow e banido do YouTube, por defender a criação de um partido nazista no Brasil, e do deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), que protagonizou uma polêmica instalação de tornozeleira e tem julgamento no STF marcado para o dia 20.
Ambos lamentaram que o debate político entre pessoas, não no âmbito da representação eleitoral, tenha derivado para o que Pondé chamou de "lacração", ou seja, com foco em destruir a linha de pensamento do outro, não com a boa-fé de que quem participa da pauta política para resolver conflitos e ajudar a sociedade a avançar.
Schüller afirmou que as "autoridades" precisam reconhecer o princípio da falibilidade humana, ou seja, que as pessoas podem errar, inclusive quando julgam casos. E afirmou que, embora seja "muito a favor das urnas eletrônicas", não considera adequada a punição a quem não diz a verdade sobre essa ferramenta.
Indagados sobre o futuro pelo mediador Gabriel Torres, presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE), entidade que promove o Fórum da Liberdade, ambos também concordaram em ser pessimistas. Ainda antes, Schüller havia afirmado que as pessoas vão continuar descontroladas e que a internet vai se manter como teatro de guerra verbal:
— Não há acordo possível, só sobre as regras do jogo. Não há como ter padrão cultural, ético ou comportamental. A única saída é a pluralidade de espaços, e isso o mercado resolve.
Pondé disse ver o problema "patinando", concordou com a "solução de mercado" para a polarização, mas afirmou não ver grande mudança de cenário no médio e longo prazo:
— Isso coloca uma questão para as entidades representativas. O debate sobre liberdade de expressão é sempre sobre ideias ruins, ao menos ruins para mim.