A proposta de exclusão de "um certo número de bancos russos" do Swift ainda não evoluiu, mas nesta segunda-feira (28) as sanções econômicas já fizeram o Banco Central da Rússia (BCR) mais do que duplicar a taxa básica de juro do país, de 9,5% para 20%, e suspender a negociação de ações.
Novas sanções econômicas derrubaram a moeda do país outra vez, acumulando perda de 30% desde sexta-feira (25). A cotação atual chega a 99,5 rublos por dólar em Moscou, mas na Ásia só se aceita trocar um dólar por 199,50 rublos, um recorde histórico. E começam a surgir relatos de corrida de clientes aos bancos russos, grave sinal de instabilidade econômica.
Ainda no domingo, agências de classificação de risco rebaixaram a nota dos dois países envolvidos no conflito. A mais tradicional, a S&P, reduziu a nota da dívida soberana russa para a faixa mais arriscada, apelida de "junk" (lixo) no mercado financeiro.
Não é uma situação nova: em 2014, quando anexou a Crimeia, os títulos soberanos da Rússia já haviam sido classificados como "lixo" pela S&P e pela Moody’s, que agora apenas colocou a avaliação em perspectiva negativa.
Notas de crédito baixas significam que o país tem de pagar mais para colocar seus títulos de dívida no mercado. Fazem isso para financiar gastos públicos, inclusive os militares. Negociações de papéis russos devem ser proibidas por Estados Unidos, União Europeia e Japão, mas a decisão das agências afetam investidores de eventuais aliados, como a China.
O Banco de Compensações Internacionais (BIS), considerado o "banco dos bancos centrais" advertiu vai aplicar as sanções financeiras contra a Rússia. Ao fazer o anúncio, o porta-voz da instituição fez questão de dizer que o BIS não será "uma via para que as sanções sejam contornadas".
Existe preocupação de que a Rússia tente escapar das punições, inclusive o desligamento do Swift, apontado como a "arma nuclear das sanções econômicas", porque o país chegou a ensaiar um sistema alternativo, chamado System for Transfer of Financial Messages (SPFS). Essa rede tem cerca de 400 bancos, a grande maioria russos ou de países que fizeram parte da União Soviética, e só responde por cerca de um quinto das transações domésticas, conforme artigo de Maria Shagina, investigadora do Centro de Estudos da Europa de Leste da Universidade de Zurique, citado pela revista portuguesa Visão.
Outra alternativa possível ao Swift seria o sistema desenvolvido pelo governo de Pequim, o China Interbank Payments System (Cips), que tem alcance global ainda modesto. Enquanto o Swift chegou ao recorde de 50,3 milhões de mensagens trocadas em um único dia em novembro passado. O Cips fez 2,2 milhões de transações em todo 2021. A Índia também é apontada como um possível interessado em abrir as portas para o dinheiro russo, em troca do aumento das exportações para o país.
A situação deixa os mercados nervosos. As bolsas asiáticas fecharam ao redor de zero, mas só a da Coreia do Sul em território negativo. As europeias fecharam com perdas menores do que sinalizavam no início do dia: 1,39% em Paris e Milão, 0,73% em Frankfurt e 0,42% em Londres. Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones da bolsa de Nova York aprofundou a queda ao longo do dia, e perto do encerramento cai 1,4%. No Brasil, a bolsa está fechada por causa do Carnaval.