A movimentação de tropas e de palavras do presidente da Rússia, Vladimir Putin, impactou preços que vão dos energéticos — petróleo e gás — ouro, passando pelas bolsas de valores.
Mas esses são apenas os efeitos mais visíveis do custo que Putin pode impor ao mundo com a guerra que prepara como se fosse um jogo de xadrez, cheio de movimentos de avanços e recuos ou no estilo morde-e-assopra, na medida para impedir retaliações menos drásticas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Apesar de, na prática, já ter começado uma invasão, Putin o faz de forma cirúrgica nas províncias rebeldes. Ao reconhecer a independência de duas províncias da Ucrânia— Donetsk e Luhansk —, o presidente russo acrescentou palavras bélicas à movimentação de tropas, horas depois de ter concordado com uma reunião de cúpula com os Estados Unidos mediada por França e Alemanha.
Além do risco ao fornecimento de gás para a Europa, em um momento em que os custos da energia já estão elevados, eventuais sanções dos países da Otan à Rússia podem comprometer outros mercados. As exportações russas se concentram em commodities, ou seja, em matérias-primas básicas.
Além de responder por 17% da oferta global de gás natural e 12% de petróleo nas trocas internacionais, a Rússia ainda representa entre 4% a 6% da produção global de cobre, níquel e alumínio, metais diretamente relacionados à infraestrutura elétrica e de máquinas e equipamentos, todos altamente inflacionados pela pandemia.
A Rússia produz ainda metais como platina (14% da oferta global) e paládio (44%). Nos produtos agrícolas, as exportações russas e ucranianas de trigo representam ao redor de 14% do total global. Pelo risco que uma guerra ampliada para além das fronteiras das duas províncias, preços de commodities de energia, metalurgia e alimentação disparam nesta terça-feira (22.02.22, a data palíndromo).
As reações já começaram: a Alemanha suspendeu a certificação do gasoduto Nord Stream 2, construído para levar gás natural da Rússia direto ao país. Até agora, a reação russa, via ministro de Energia, Nikolay Shulginov, foi dizer que não usará as exportações de energia como arma e pretende manter o abastecimento para a Europa.
E veio do governo britânico uma reação capaz de provocar as pressões internas, as mais eficazes sobre Putin: congelou os ativos de cinco bancos russos — Rossyia, IS Bank, General Bank, Promsvyazbank e Black Sea Bank — e de três oligarcas — Gennady Timchenko, Boris Rotenberg e Igor Rotenberg. Ao Parlamento, o primeiro-ministro Boris Johnson justificou que o principal objetivo é impedir que o mercado financeiro local financie empresas russas.
Depois de admitir publicamente o temor de que o conflito possa se tornar "a maior guerra na Europa desde 1945", em tentativa de baixar o ímpeto bélico, Johnson tenta se antecipar ao xeque do russo com uma espécie de gambito da rainha. Depois de acusar o oponente de falta de racionalidade, parece ter entendido que, antes dos tanques, Putin move peças de xadrez no tabuleiro de guerra.
Não por acaso, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já avisou que a Rússia "nunca viu sanções como as que prometi que seriam impostas" e o Senado americano estaria montando uma lista que seria "a mãe de todas as sanções". Mas evitam explicitar as punições para manter a dúvida. Embora seja cedo para saber todos os custos da guerra de Putin, uma coisa é certa: o preço será muito alto, especialmente para países que vivem crise energética, como o Brasil.