Após mais de uma hora e meia de ligação neste domingo (20), o presidente russo Vladimir Putin e o presidente francês Emmanuel Macron concordaram em tentar garantir um cessar-fogo no leste da Ucrânia, em Donbas, e em realizar uma cúpula urgente do mais alto nível sobre o futuro da Ucrânia, de acordo com um comunicado do Palácio do Eliseu.
Segundo o The Guardian, o resultado da ligação foi confirmado pelo Kremlin e sugere que a Rússia pode estar disposta a recuar de uma invasão total da Ucrânia para permitir novas discussões diplomáticas.
Os ministros das Relações Exteriores dos dois países se reunirão nos próximos dias para dialogar sobre a possível cúpula entre Rússia, Ucrânia e aliados. O Kremlin sugeriu que a reunião seja realizada no formato Normandia — os participantes serão, portanto, Rússia, Ucrânia, França e Alemanha.
O jornal The Guardian destacou que é cedo para afirmar se Macron deu um golpe diplomático de última hora ou se tem o apoio de Washington e Londres — até agora, a maioria dos seus movimentos foram coordenados com os Estados Unidos.
A presidência francesa afirmou que o objetivo da cúpula dos líderes seria definir "uma nova ordem de paz e segurança na Europa".
Os dois líderes decidiram ainda que uma reunião trilateral seria realizada nas próximas horas buscando obter o compromisso de todas as partes com um cessar-fogo na linha de frente. De acordo com o G1, a reunião seria realizada entre Rússia, Ucrânia e membros da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e estaria prevista para acontecer nesta segunda-feira (21).
O Kremlin disse que Putin expressou séria preocupação com a acentuada piora da situação no Donbas. No entanto, ressaltou que o presidente não estava retirando nenhuma de suas demandas mais amplas, dizendo que Putin "reiterou a necessidade de os Estados Unidos e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) levarem a sério as demandas russas por garantias de segurança e responder a elas de forma concreta e direta".
O comunicado acrescentou que a escalada no leste da Ucrânia foi atribuída por Putin às provocações das forças de segurança ucranianas, e ele reclamou do fornecimento de armas e munições modernas pelos países da Otan à Ucrânia, "o que está empurrando Kiev em direção a uma solução militar para o chamado problema de Donbas".
Após a ligação com Putin, Macron falou com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Durante o telefonema com Zelensky, algo que não estava planejado inicialmente, o presidente ucraniano garantiu que "não responderia a provocações" da Rússia na linha de frente com os separatistas de Donbas, segundo a presidência francesa. E também pediu a Macron para expressar à Putin "a disponibilidade da Ucrânia para o diálogo".
Ainda neste domingo, Rússia e Bielorrússia tomaram a decisão de estender o tempo de inspeção de suas forças conjuntas para além deste final de semana, quando estava marcado o fim dos exercícios militares da Allied Determination 2022. O ministro da Bielorrússia disse que a decisão foi tomada "em conexão com o aumento da atividade militar perto das fronteiras externas" da Rússia e Bielorrússia e por causa da crescente tensão na região de Donbas.
A Otan afirma que a Rússia tem até 30 mil soldados na Bielorrússia e poderia usá-los como parte de uma força de invasão para atacar a Ucrânia, embora Moscou negue tal intenção.