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Com o barril do petróleo tipo brent na maior cotação em mais de sete anos — em US$ 88, a mais alta desde outubro de 2014 — aumenta o risco de novos reajustes de gasolina e diesel no Brasil. Mas por que se observa especificamente essa "variedade" de óleo cru?
O motivo principal é a definição do brent como referência na regra chamada Paridade de Preços de Importação, adotada pela Petrobras em 2016, no governo Temer.
Portanto, está previsto em norma da estatal que esse é o tipo de petróleo que define o sobe-e-sobe (nos últimos meses, quando desce, é só por simbolismo) de gasolina e diesel nas refinarias. Mas por que a Petrobras escolheu o brent para balizar a regra, se esse não é o único tipo de petróleo existente?
O brent é a principal referência do mercado global, uma espécie de indexador não só para preços de combustíveis ao redor do mundo e vários custos da cadeia petrolífera, de aluguel de plataformas a valor de peças para o segmento. Tudo varia conforme esse preço, que é uma espécie de indicador oficial de inflação do setor.
A característica do brent, extraído no Mar do Norte (especialmente nas costas de Reino Unido, Noruega, Holanda e Dinamarca) que o transformou em "IPCA" do petróleo é seu baixo grau API. Calma, que a coluna explica: é um petróleo considerado "leve", ou seja, o custo de sua transformação em gasolina e diesel é menor, porque o refino é mais simples. Mas isso faz com que seu preço seja mais alto do que os demais, exatamente por "render" mais produtos de maior valor de mercado.
O nome API vem de American Petroleum Institute, órgão que estabelece a classificação, e o grau que mede é o da densidade. Por isso, quanto maior o grau API, melhor é a qualidade. Para ser considerado óleo leve, o API precisa ser acima de 31. O médio fica entre 22 e 31, enquanto o pesado fica abaixo de 22.
Até a descoberta do pré-sal, o óleo que o Brasil extraía na sua costa era "pesado", ou seja, exigia mais equipamentos e processos nas refinarias. Além disso, ainda acumulava resíduos que só podem ser usados em derivados de menor preço, como o chamado "coque", que é usado nas indústrias de cal e cimento, mas exige cuidados por concentração de poluentes, como o enxofre.
No pré-sal, que hoje representa 70% da produção da Petrobras, são extraídos petróleos menos pesados, mas ainda não considerados "leves". Conforme o mais recente boletim mensal da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), de novembro, só 2,3% da produção é considerada óleo leve, e a de óleo pesado caiu 5,6%. Mas 92,1% é de "óleo médio", que também exige refino mais elaborado.
Cada província petrolífera tem um tipo de petróleo diferente, como a do Oriente Médio (leve), ou da Venezuela (pesado). Mas além do brent, só o tipo WTI (West Texas Intermediate), que identifica o extraído no Golfo do México, nos Estados Unidos, é uma referência internacional. Foi o WTI que provocou impacto, no início da pandemia, por ter baseado uma negociação com preço negativo.
A política da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação, adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — medida pela cotação do brent —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.