A frustração com ambição privatizadora do governo Bolsonaro provocou até debandada na equipe econômica, inclusive de Salim Mattar, secretário de desestatização que extinguiu a Ceitec e queria acelerar a venda da Trensurb, mas os planos não foram arquivados.
Ricardo Hingel, novo presidente do conselho da estatal, admite o atraso, que atribui à pandemia, mas o processo segue em curso:
— A meta é privatizar ainda neste ano.
Segundo Hingel, o objetivo foi reiterado em uma reunião realizada nesta semana. A coluna quis saber se uma privatização em ano eleitoral seria viável, o executivo afirmou que o papel da administração é deixar tudo pronto para aproveitamento de uma eventual "janela de oportunidade".
O impacto da pandemia no processo de privatização, especifica, foi a mudança no uso dos transportes. A média diária de passageiros do Trensurb, que era de 160 mil, caiu a menos da metade no período de restrições. Agora, voltou ao patamar de 100 mil, mas ainda há dúvida sobre em que nível vai se estabilizar.
— Na época em que tinha 160 mil passageiros/dia, a tarifa cobria 75% do custo operacional da empresa, ou seja, já havia subsídio. Com a queda, passou a cobrir muito menos, o que eleva o subsídio, afeta o fluxo de caixa e dificulta muito a projeção do valor da concessão — detalha Hingel.
Conforme o executivo, há vários modelos em discussão, como a possibilidade de exploração comercial de estações e vagões. Também está em estudo o aproveitamento do que chama de "patrimônio imobiliário". Explica que, na época da implantação da linha, houve ocupação de áreas que hoje estão ociosas e agora poderiam ser liberadas para outras finalidades:
— A localização das estações é interessante para fins comerciais e habitacionais.
Embora o modelo exato não esteja definido, Hingel adianta que a forma de privatização vai passar pela análise do BNDES, com contratação de especialistas para a definição de regras de concessão e definição de valor, com processo licitatório por leilão tradicional.
A coluna perguntou ainda se, enquanto se espera a privatização, não é possível melhorar o serviço. O presidente do conselho da Trensurb afirmou que se "surpreendeu" com a qualidade da gestão da estatal. Disse também que as pesquisas de satisfação dos usuários não indicam necessidade de grandes intervenções: em 2019, o índice de aprovação foi de 70% e, no ano passado, chegou a 81%. Hingel não tem dados sobre 2020.