Para quem precisa se deslocar entre cidades da Região Metropolitana e Vale do Sinos, umas das opções de transporte público é o trem. Nas primeiras horas da manhã ou no começo da noite, quando ocorrem os momentos de pico na movimentação, o desafio do usuário começa por superar escadas rolantes paradas, estrutura que assim como os banheiros, são alvos constantes de queixas. Uma vez embarcado no trem, a superlotação e a falta de distanciamento entre as pessoas nos vagões completam a rotina conturbada dos passageiros nas composições.
Na manhã desta sexta-feira (15), a reportagem de GZH circulou por estações da Trensurb nas cidades de Porto Alegre, Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo e Novo Hamburgo - todas situadas ao longo dos 43 quilômetros de linha férrea. A blitz é a segunda realizada neste ano e pouco mudou em relação aos problemas relatados em fevereiro.
A lotação dos vagões no horário de pico continua como uma das principais reclamações dos usuários, ainda que a média diária de passageiros esteja entre 90 e 100 mil, segundo a companhia. Ou seja, muito abaixo do pré-pandemia, quando havia aproximadamente 170 mil usuários. Com a falta de informação sobre o horário de circulação dos trens acoplados, usuários acabam se acumulando na ponta da plataforma de embarque e se distribuindo de maneira disforme entre os vagões, o que gera alguns espaços lotados e outros menos cheios. No caso dos trens mais novos, que permite a circulação entre os vagões durante o percurso, o problema fica menos significativo.
Um problema do trem nos horários de pico é que qualquer pequeno atraso causa um efeito dominó. Foi o que a reportagem presenciou na estação Canoas. O intervalo entre uma viagem e outra foi maior que o normal, deixando mais gente esperando na plataforma. Quando o trem chegou, por volta das 8h30min, já estava lotado. Ao longo do trajeto, a quantidade de pessoas sendo transportadas era tamanha, que não era possível se mexer.
— Todo dia está bem lotado, mas hoje com esse atraso ficou impossível, não cabe mais gente e seguem abrindo as portas — reclamou a promotora de vendas, Rosa Polino, que transitava de Canoas em direção a Porto Alegre.
Distanciamento
Se a mobilidade urbana na Região Metropolitana depende do metrô, a segurança sanitária das pessoas que utilizam o serviço tem relação direta com o distanciamento social e o uso de máscaras.
Nos vagões, a maior parte das pessoas utiliza máscaras, mas o distanciamento não ocorre em todos os horários. A reportagem viajou no sentido Novo Hamburgo-Porto Alegre. Por volta das 8h20min, o trem que passava por Sapucaia do Sul estava completamente lotado e com pessoas muito próximas. A engenheira florestal Aline Cristina Habitzreiter disse que em 20 minutos os vagões ficam muito cheios. Questionada se tem medo de utilizar o meio de transporte nos horários de pico, já que o marido chegou a ficar doente no ano passado, ela disse que é preciso encarar:
— Levo meu álcool em gel, uso máscara e me vacinei. Tenho receio porque estamos mais suscetíveis ao vírus, mas temos que enfrentar.
Já na estação São Leopoldo, que não tem sabonete nos banheiros, mas possui pias para higienização das mãos, alguns usuários do trem paravam para lavar as mãos ou utilizar álcool.
— Costumo lavar as mãos sempre que entro na estação porque acredito no coronavírus e a pandemia não acabou. Estou vacinada com as duas doses, mas sigo me cuidando muito — disse Luiza Marcuzzo, graduanda em História e moradora de Canoas.
Orientação
Um dos pedidos dos usuário é em relação a orientação nas plataformas de embarque. O problema da distribuição disforme entre os vagões, citado no início da reportagem, poderia ser resolvido com avisos sonoros nas estações, acredita o empresário Maurício Simon, 43 anos. Dono de uma loja no Centro Histórico, ele transita diariamente de São Leopoldo e Porto Alegre.
— A gente fica no meio da plataforma, achando que o trem vai ser acoplado. Mas, chega na hora e vem um só, aí é uma correria para conseguir embarcar. Podiam avisar pelo sistema de som ou pelo menos ter horário fixo para os trens acoplados — pontua Maurício.
No sistema de som das plataformas, a reportagem ouviu apenas orientações sobre uso de máscara, distanciamento social e em algumas a informação de que o embarque era nas pontas das plataformas e não no meio.
A situação nas estações visitadas
Estação Mercado (Porto Alegre)
Banheiros limpos e em funcionamento, álcool gel disponível e um adendo: no piso da plataforma de embarque, adesivos orientam o distanciamento correto entre usuários. Das quatro escadas rolantes na plataforma de embarque da Estação Mercado, apenas uma está fechada para reparos. No momento da visita da reportagem, não havia ninguém trabalhando no local.
Estação Rodoviária (Porto Alegre)
O cenário é parecido com a Estação Mercado. O local não apresenta problemas significativos de infraestrutura. A reportagem encontrou escadas rolantes funcionando, banheiros abertos ao público e também álcool gel disponível para quem ingressava na estação. A Estação Rodoviária também tem um elevador, que estava funcionando normalmente.
Estação Anchieta (Porto Alegre)
O local disponibiliza álcool em gel aos passageiros, mas não conta com banheiros. Na estação, obras de acessibilidade estão em andamento. Possui somente escada rolante para subir da plataforma à saída.
Estação Canoas (Canoas)
No local, os banheiros estão interditados e há goteiras. Os pingos caíam no acesso e na plataforma de embarque. As duas escadas rolantes estavam em pleno funcionamento. Na entrada da estação também havia um totem com álcool gel disponível para quem acessava o espaço.
Estação Mathias Velho (Canoas)
Há problemas visíveis logo no acesso. Goteiras e banheiros interditados marcam presença na entrada da estação, antes de se chegar na plataforma de embarque. Das duas escadas rolantes da estação, uma está interditada para conserto. Durante a visita da reportagem, não havia ninguém trabalhando no local. A estação conta com elevador, que estava em funcionamento.
Estação Petrobras (Canoas)
Não tem álcool gel disponível, nem escada rolante enquanto obras de acessibilidade estiverem em andamento. Também não possui banheiro. Pouco movimentada.
Estação Esteio (Esteio)
A estação tem boas condições de limpeza e os banheiros estavam abertos ao público. Os elevadores e escadas rolantes também apresentavam boas condições de uso. O problema ficou por conta das goteiras na parte interior da estação. Na Estação Esteio, a reportagem não encontrou dispensers de álcool em gel disponíveis para os usuários. Na plataforma, avisos sonoros reforçavam a necessidade de distanciamento social e uso de máscaras.
Estação Sapucaia (Sapucaia do Sul)
Chama a atenção que as pias para lavagem de mãos estão interditadas e os banheiros estão em situação precária. Porém, há álcool em gel disponível em totens na entrada da estação. As escadas rolantes estavam em funcionamento e um painel do governo federal exibe as informações de que uma obra de melhoria das passarelas foi realizada entre janeiro e abril deste ano.
Estação São Leopoldo (São Leopoldo)
A estação possui pias para lavagem de mãos, escadas rolantes e elevadores em funcionamento. No momento, vem recebendo obras de melhorias na acessibilidade.
Estação Rio dos Sinos (São Leopoldo)
No começo do dia, é uma estação bastante movimentada. Entre os equipamentos do local, uma escada rolante estava parada; havia álcool em gel disponível em totens.
Estação Santo Afonso (Novo Hamburgo)
Possui totens com álcool em gel à disposição, papel higiênico somente na entrada dos banheiros, escadas rolantes e elevadores funcionando. Sem registro de aglomeração às 7h20min.
Estação Novo Hamburgo (Novo Hamburgo)
Partindo do Vale do Sinos em direção a Porto Alegre, é a primeira estação. Por volta das 6h30min, a movimentação começa a aumentar no local, mas sem qualquer lotação até às 7h. Há banheiros e álcool em gel à disposição, assim como as escadas rolante estão funcionando. É uma das estações mais novas e em melhores condições aos usuários.
O que diz a Trensurb
Em relação aos problemas nos banheiros da Estação Canoas, a Trensurb informou que alguns sanitários estão interditados para desentupimento em razão de mal uso. A previsão é reabrirem logo que termine esse serviço.
Sobre as goteiras nas estações, a empresa informou que um projeto em desenvolvimento pela área técnica para reparo dos telhados dessas estações está em curso "Estudos apontam para um custo aproximado de R$ 2 milhões, que está no plano de negócios de 2021/2022", afirma a nota da companhia.
As pias que foram instaladas no começo da pandemia e estão vandalizadas devem ser retiradas, segundo a Trensurb. Conforme a empresa, esses equipamentos "serão retirados em função do alto índice de depredação e foram substituídos pelos totens com álcool gel em maio deste ano". Os totens, conforme a companhia, "não tiveram problemas de vandalismo até o momento".
Quanto aos trens acoplados, a Trensurb diz que chega a ter sete deles circulando nos horários de pico. A principal mudança introduzida pelas novas tabelas horários em vigor desde 19 de julho, em relação à utilização dos trens acoplados, é que eles passaram a ter horários fixos de partidas, buscando melhor atender à demanda de usuários nos momentos de maior fluxo no metrô. "Essa mudança foi realizada a partir de estudos de ocupação do trem por horário, realizados a partir de números de acessos ao sistema registrados por meio da bilhetagem eletrônica e em matrizes de origem e destino".
A Trensurb também informou que segue realizando esse acompanhamento também por meio de inspeções visuais a partir das plataformas das estações, "verificando a necessidade de eventuais ajustes pontuais".