Como estava previsto, o Brasil marcou passo no terceiro trimestre de 2021. A "recuperação em V" do ministro da Economia, Paulo Guedes, bateu no formato raiz quadrada.
Havia consenso de que o PIB do período entre julho e setembro orbitaria em torno do zero quando comparado ao período anterior. O resultado de -0,1% confirmou as expectativas, Mesmo por um triz, é um quadro de recessão técnica que o Brasil vive na economia.
Foram dois sinais negativos consecutivos. No segundo trimestre o resultado revisado nesta quinta-feira (2) foi de -0,4%, depois de ter sido divulgado como -0,1%. Parece um capricho estatístico para se encaixar na definição de recesso técnica: dois trimestres seguidos de recuo na atividade econômica. Se “recessão” é uma palavra forte, a alternativa não é muito melhor: “estagnação”.
O resultado do PIB vai complicar Banco Central da próxima semana. O mercado vê a autoridade monetária perdendo a capacidade de levar a inflação à meta em 2022. E elevar mais a taxa em cenário de estagnação só vai confirmar uma recessão, talvez já não apenas "técnica".
Como a coluna havia observado no segundo trimestre, a inflexão dos investimentos, avaliados pelo indicador formação bruta de capital fixo, contribuiu para esse resultado. E, de julho a setembro, voltou a cair 0,1% na comparação com o trimestre anterior, mesmo ainda 18% maior do que no mesmo período do ano passado.
Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, projeta nova contração de 0,1% para o PIB no quarto trimestre, o que confirmaria o cenário de estagnação no segundo semestre que apontava ainda em maio. O conjunto de indicadores antecedentes que monitora também sinaliza retração no primeiro semestre de 2022.
— Se nossas estimativas estiverem corretas, a herança estatística (carry-over) para o próximo ano será de -0,2% (se o crescimento for nulo em cada um dos quatro trimestres, o resultado do ano será -0,2%). Essa mesma herança de 2020 para 2021 foi de 3,8%, o que explica o crescimento anual de 4,8%, mesmo com retração em três dos quatro trimestres. Oliveira mantém, "por ora", a estimativa de crescimento de 4,8% para 2021 e de 0,2% para 2022, mas avisa que já vê "viés de baixa", sobretudo para 2022.
— É consenso que o próximo ano será difícil. O debate sobre alta de juro nos Estados Unidos vai ficar mais forte e, no Brasil, as eleições presidenciais serão acompanhadas por dúvidas sobre a agenda econômica. Além disso, os últimos meses trouxeram incertezas adicionais sobre crescimento, pandemia e trajetória da dívida pública — disse Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim, ao avaliar, na véspera, o cenário de 2022.
Segundo Padovani, o conjunto da taxa de desemprego e da inflação, o chamado índice de desconforto, está no patamar mais alto em 20 anos. A consequência, pondera, é a pressão por gastos públicos em um momento em que o mercado projeta juros reais de longo prazo de 4% e crescimento potencial (capacidade do país crescer, se tudo der certo) em 2%, apontando para "importante deterioração" na dívida pública.