A tão esperada cavalaria contra a disparada dos combustíveis chegou na terça-feira (23), mas o anúncio dos Estados Unidos de liberar 5o milhões de barris para o mercado de seu estoque estratégico de petróleo fez a cotação do barril subir, em vez de cair.
O tipo brent, referência da Petrobras, avançou 3,3%, para US$ 82,31 no dia do anúncio. Nesta quarta-feira (24), oscila entre altas e baixas. Não houve alívio significativo que permita projetar, ao menos agora, redução no preço dos combustíveis no Brasil.
Mas o que deu errado, se todos os especialistas previam que a medida, acompanhada por China, Índia, Japão, Coreia do Sul e Reino Unido, provocaria baixa de preço do petróleo? Teria sido o reverso de um clássico, o efeito "cai no boato, sobe no fato"? Dizem os mesmos especialistas que não se trata disso, desta vez.
Bjornar Tonhauge, analista-chefe de petróleo da consultoria Rystad, observou que a decisão conjunta dos seis países é uma medida "sem precedentes". Lembra que a última vez em que ocorreu algo semelhante foi durante a guerra civil na Líbia, em 2011, quando países liberaram estoques de forma conjunta, mas sem participação da China. Em nota, afirmou que "para os motoristas que se perguntam se os preços da gasolina vão baixar, a realidade é que isso pode nem acontecer, ou apenas depois de certo tempo".
Primeiro, explica, porque os estoques liberados são de petróleo cru, especialmente nos EUA e "possivelmente" na China. Para que impacte os preços da gasolina, seria preciso que as refinarias operassem com maior capacidade, o que leva certo tempo. Além disso, os estoques dos países são limitados, ou seja, não podem ser liberado por tempo indefinido, o que reduz a capacidade de interferir nas cotações por longo tempo.
Mas Tonhauge afirma, ainda, que a pergunta de US$ 1 milhão é como a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) vai reagir à medida combinada dos seis países. Sua expectativa é de que discutam um acordo sobre a produção na próxima semana, mas sem uma pressão muito forte por aumento de oferta. A nova onda de covid-19, especialmente na Europa, aumentou a incerteza sobre a retomada da demanda.
O analista prevê um "jogo de pôquer" em que o cartel dos exportadores pode até reduzir a produção em janeiro para manter seus lucros caso a ação coordenada entre os seis países seja considerada "agressiva".
A política da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação, adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.