Trata-se de um consenso incomum em tempos de tensões geopolíticas: a China confirmou nesta quarta-feira (24) que utilizará suas reservas para reduzir o preço do petróleo, contribuindo, assim, para uma iniciativa lançada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Biden anunciou na terça-feira (23) uma iniciativa para reduzir os preços desta commodity: recorrer aos 50 milhões de barris de petróleo das reservas estratégicas dos Estados Unidos, o maior volume já liberado.
Os Estados Unidos indicaram que esta decisão é tomada em paralelo a outras grandes nações consumidoras de energia, como China, Índia, Japão, República da Coreia e Reino Unido.
A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou que esses países "já haviam anunciado" a liberação de parte de suas reservas, ou sua intenção de fazê-lo.
Sem nominar os Estados Unidos, o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Zhao Lijian, confirmou hoje que a China se juntaria à manobra.
— A China, em função de suas necessidades e circunstâncias, usará suas reservas de petróleo e tomará outras medidas necessárias para manter a estabilidade do mercado — disse o porta-voz.
Zhao não especificou quando isso será feito, ou quanto petróleo Pequim colocará no mercado.
De acordo com a agência financeira Bloomberg, Biden teria discutido essa iniciativa durante sua primeira cúpula por videoconferência, na semana passada, com seu homólogo chinês, Xi Jinping.
A iniciativa conjunta busca baixar mecanicamente os preços com o aumento da oferta.
Gasolina e Ação de Graças
A decisão chega em um momento em que os preços nos postos de gasolina continuam subindo nos Estados Unidos, o que representa um grande problema político para Biden, especialmente na véspera do Dia de Ação de Graças. Nesta data, os americanos viajam pelo país para se reunir com suas famílias.
Biden também acusou as grandes petrolíferas de serem parcialmente responsáveis pela alta nos preços da gasolina.
— O preço da gasolina no atacado caiu 10% nos últimos anos, mas o preço ao consumidor não caiu um único centavo — reclamou.
Normalmente, os Estados Unidos fazem pouco uso de suas reservas, hoje em 609 milhões de barris e localizadas nos estados de Louisiana e do Texas. Recorre-se a elas em casos de desastres naturais, ou crises internacionais.
Um dos líderes do campo republicano, o senador Lindsey Graham, denunciou um "abuso" no uso dessas reservas, destinadas, segundo ele, a casos "emergenciais".
O assunto é particularmente delicado, especialmente para Joe Biden, cujo objetivo principal é facilitar a vida da classe média de seu país, desencorajada pela globalização e pela pandemia de covid-19.
Para finalmente chegar a um consenso sobre as reservas de petróleo, Washington e Pequim puseram a rivalidade de lado, já que a China também é um dos maiores consumidores de petróleo do mundo.
As tentativas dos Estados Unidos de pressionar os países produtores, especialmente a Arábia Saudita, para aumentar sua oferta até agora não funcionaram.