O Ministério Público (MP) afirmou que mais de uma centena de mercados, restaurantes, pizzarias e hamburguerias de Caxias do Sul podem ter vendido carne de cavalo misturada com bovina. A informação partiu do promotor Alcindo Bastos, que coordena o Grupo de Segurança Alimentar (Gaeco), em entrevista à Gaúcha Serra na manhã dessa quarta-feira (24). Ele é responsável pela Operação Hipo, deflagrada na última quinta-feira (18), que desarticulou uma quadrilha investigada por abate ilegal em uma chácara no bairro Forqueta. O promotor destacou que, com base em depoimentos, documentos e provas recolhidas na operação, é possível afirmar que não são apenas as hamburguerias que revendiam a carne.
— Aqueles (que confessaram e) que lidavam com a captação dos cavalos, que abatiam e desossavam, enterravam as carcaças e levavam para o freezer de um dos investigados onde a carne ficava pouco tempo, porque não chegava nem a congelar. Depois, já era encaminhada para outros, que se encarregavam de confeccionar hambúrgueres e revender no mercado de redes de consumo de Caxias do Sul. Aí, então, não só de hamburguerias, mercados, pizzarias e restaurantes — revelou.
Ainda conforme o promotor, em depoimento, dois dos envolvidos silenciaram e dois confessaram como ocorria o uso de carne de cavalo com detalhes:
— Já é possível visualizar a quantidade de estabelecimentos. Nos surpreendeu um pouco a quantidade de gente, de fornecedores que negociavam com esse pessoal, sempre naquelas mesmíssimas condições: sem nota fiscal, o produto nunca tinha procedência, não tinha embalagem, não tinha refrigeração, validade, não tinha inspeção de forma alguma. Nos assustou um pouco o que surgiu a mais.
Bastos explicou que essa investigação será feita à parte, possivelmente, pela Promotoria Especializada de Caxias do Sul, porque tem situações mais antigas que não podem ser materializadas:
— Não será possível materializar com análise laboratorial se efetivamente fecharam as negociações. Acho que foram produtos possivelmente que já foram consumidos. Agora, depois da operação com o grupo desativado, a Vigilância Sanitária tem ido a campo também. Vamos elaborar uma lista para repassar a eles para eventuais desdobramentos envolvendo esses estabelecimentos.
Bastos afirmou que, no dia da operação, havia uma cota de 10 análises de DNA para comprovar que havia carne de cavalo nas amostras. Apenas uma delas teve resultado negativo, que foi coletada na véspera da ação, e todas as demais foram confirmadas na terça-feira (23). Aquelas amostras foram coletadas na chácara, no local onde eram confeccionados os hambúrgueres e nos estabelecimentos. Depois da operação, foram feitas novas coletas, e os resultados ainda não chegaram, mas agora há dificuldade em comprovar se havia carne de cavalo misturada nos alimentos.
— Os resultados ainda não chegaram até nós. Os estabelecimentos que vierem a ser identificados vamos divulgar nomes com base em laudos técnicos. Só ressaltando: foram coletados posterior ao encaminhamento da operação. Com a repercussão dada, acreditamos que alguns fornecedores, se não todos, descartaram talvez, ou não, antes da chegada da fiscalização e das coletas.
O promotor afirmou que tão logo seja comprovado o uso de carne de cavalo, os nomes dos estabelecimentos serão divulgados.
Ouça a entrevista ao Gaúcha Hoje