O primeiro pedido de liberdade provisória dos investigados na Operação Hipo foi negado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A solicitação de habeas corpus foi feita pela defesa de Marcos André de Bortoli, 50 anos, e distribuída para a 4ª Câmara Criminal ainda na quinta-feira (18), dia da operação. A medida liminar não foi concedida. O TJRS considerou a gravidade dos fatos apurados, que demonstra uma suposta organização criminosa e a prática de crimes contra a saúde pública. Segundo o Ministério Público (MP), outros pedidos foram feitos e também foram negados. Contudo, o nome dos suspeitos e outros detalhes não foram divulgados.
Na manhã desta terça-feira (23), foram realizadas as audiências de custódia dos seis presos preventivamente pelo esquema de abate clandestino de cavalos para a produção e venda de hambúrgueres em Caxias do Sul. O Ministério Público (MP) também pretende ouvir os seis investigados e concluir a denúncia até o final do dia.
As audiências de custódia aconteceram por videoconferência, uma vez que os investigados estão em um presídio. Os advogados dos investigados acompanharam os atos.
Como funcionava o suposto esquema investigado
A Operação Hipo foi deflagrada na última quinta-feira (18). Segundo a investigação conduzida pelo Ministério Público, o suposto esquema de abate de cavalos para a produção de hambúrguer começaria pelos suspeitos Reny e Eduardo Mezzomo, 61 e 26 anos, pai e filho proprietários da chácara em Forqueta onde os animais estariam sendo mantidos para posterior venda da carne.
Após o abate, a carne seria repassada para o também suspeito Alexandre Gedoz, que supostamente seria responsável pela distribuição, conforme informações do MP. Ele contaria com o apoio da esposa Teresinha Salete Gedoz para negociar a entrega de carnes. Em uma das ligações interceptadas pela investigação, a suspeita alertou o motorista a cuidar com possíveis barreiras policiais.
Quem supostamente fazia os hambúrgueres e negociava os produtos com as lanchonetes seriam Marcos André de Bortoli, 50, e Daniel Gnoatto, 57. Daniel é suspeito de ser o principal elo de ligação entre o grupo e os clientes. Ambos são açougueiros e já foram donos de mercados, sendo bastante conhecidos no ramo de carnes. Em uma das ligações interceptadas pelo MP, Daniel e Marcos comentam sobre o crescimento do "negócio", com a encomenda de 800 unidades de hambúrguer para a semana seguinte.
Em uma ligação, Daniel e Alexandre comentam que as entregas precisariam ser feitas "de noitezinha".
O processo ainda lista outros três investigados que, por não terem uma ordem de prisão expedida, não tiveram as identidades divulgadas. Dois deles seriam responsáveis por negociar os cavalos para o abatedouro em Forqueta. O terceiro recolhia restos de alimentos para dar aos porcos da chácara e tinha estreita ligação com a família supostamente envolvida no abate de animais e comércio da carne.
A investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) – Segurança Alimentar comprovou a presença de carne de cavalo em lanches de duas hamburguerias: a Miru's Burguer, no bairro Kayser, e a Natural Burguer do bairro Sagrada Família. Equipes da operação compraram os hambúrgueres como clientes e encaminharam o alimento para análise no Laboratório Federal de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura em Goiás. O resultado do DNA deu positivo para carne de cavalo.
Durante a operação, os investigadores encontraram um papel com 17 nomes que fazem referência a hamburguerias de Caxias do Sul. A Promotoria afirma que não divulga a relação porque não há comprovação de que esses estabelecimentos compraram a carne imprópria para consumo ou se sabiam do esquema criminoso. Por enquanto, todas as hamburguerias são tratadas como testemunhas na operação.
Contraponto dos suspeitos que estão presos preventivamente:
:: Marcos André de Bortoli, 50 anos
É representado no processo pelo advogado Leandro Carlo Schramm, que afirma estar se inteirando do caso e que não irá se manifestar no momento. Inicialmente, o defensor alega que seu cliente também foi vítima de uma quadrilha inescrupulosa que vendia produtos sem condições para consumo humano.
:: Daniel Gnoatto, 57 anos
Contratou o escritório dos advogados Ivandro Bittencourt Feijó e Maurício Adami Custódio, que estão providenciando procuração junto ao processo nesta terça-feira (23). Por enquanto, a defesa não se manifestou.
:: Reny Mezzomo, 61, e Eduardo Mezzomo, 26 anos
Pai e filho são representados pelo advogado Vinicius de Figueiredo, que não atendeu as tentativas de contato pela reportagem.
:: Alexandre Gedoz, 65, e Teresinha Salete Gedoz, 59 anos
O casal contratou o escritório de Alcides Dall'Agnol, Fernando Tremarin e Fabiano Huff. De acordo com Dall'Agnol, Teresinha foi mais uma vítima deste esquema e há esperança de que ela seja liberada da prisão logo. Sobre o Alexandre, o advogado afirma que trabalha junto ao cliente há mais tempo e percebe uma situação mais complicada, mas que acredita que a situação não é como está sendo posta.