Havia sinais de que a imagem do Brasil poderia comprometer as vendas de produtos nacionais no Exterior, mas até agora se limitavam a barreiras disfarçadas ou à preferência do consumidor.
A partir desta quarta-feira (17), o jogo ficou mais pesado. Em novo avanço do European Green Deal, o plano do bloco para frear mudanças climáticas, a União Europeia quer proibir a importação de produtos cultivados ou que tenham sido derivados de áreas desmatadas, de forma legal ou ilegal.
Estão na lista verde soja, café, carne bovina, cacau, madeira e óleo de palma, e derivados como couro, chocolate e móveis (veja detalhes clicando aqui, no original em inglês). São todas mercadorias que têm o Brasil como líder de mercado ou dono de uma considerável fatia do comércio global.
As regras detalhadas nesta quarta-feira (17) precisam ser aprovadas pelo Conselho Europeu (colegiado formado pelos presidentes dos países do bloco) e pelo Parlamento Europeu, formado por representantes escolhidos especificamente para essa função, onde há expressiva bancada verde.
Caso sejam aprovadas, o efeito prático é que nenhum desses produtos poderá ser importado para os 27 países que integram a União Europeia se tiverem origem em terra em que houve desmatamento, tanto ilegal quanto legal, depois de 31 de dezembro de 2020, data de corte definida pelos formuladores da política.
Mesmo tomada depois que o Brasil assinou o Acordo da Floresta, que prevê o fim do desmatamento até 2030, a medida é polêmica, inclusive por impor custos às empresas, que serão obrigadas a rastrear suas compras. Mas mostra como o mercado pode condicionar decisões políticas. Se alguém achava que nada iria mudar para o quarteto "carros, carvão, dinheiro e árvores" depois da COP26, melhor repensar. Na melhor das hipóteses, vai exigir negociações de altíssimo nível.