Enquanto não dá explicações detalhadas sobre os dólares que mantém no Exterior, o ministro da Economia, Paulo Guedes, segue pontificando sobre a inflação.
Em pleno feriado, diagnosticou que a alta dos preços é generalizada em todo o mundo e que, no Brasil, os reajustes de alimentos e energia responde por metade da subida nos índices inflacionários do país (veja quadro no final do texto).
É fato que a inflação sobe em todo o mundo, mas quanto? Uma comparação internacional da taxa acumulada em 12 meses mostra o Brasil em má companhia: o time dos dois dígitos é escalado com Gana (10,6%), Burundi (10,47%), Brasil (10,25%), Belarus (10,2%) e Turcomenistão (10%), apenas para ficar entre os "vizinhos" de taxa. O grupo completo inclui apenas países da África e repúblicas que faziam parte da antiga União Soviética. O que pode ser visto como exceção seria a Turquia com seus 19,58%.
Claro, existe o universo em que a inflação chega a três ou a até quatro dígitos, mas abrange apenas países quebrados, como a Venezuela – campeã mundial de inflação, com 2.720% –, ou atingidos por guerras ou conflitos constantes, como Sudão (388%) e Líbano ( 138%). Na América Latina, a pior situação é a da Argentina com sua crise cambial – não há dólares suficientes para pagar todos os compromissos na moeda americana –, que chega a 51,4%.
Nos mercados, a discussão do dia é a "alta" inflação nos Estados Unidos: subiu 0,4% em setembro. Para lembrar, a disparada no mesmo mês, no Brasil, foi de 1,16%, ambas no mês e em comparação ao período imediatamente anterior. Com esses resultados, o acumulado em 12 meses nos EUA é assustador para os padrões locais: 5,4%. Mas é quase a metade do indicador de mesma base no Brasil.
A conclusão óbvia é de que sim, a volta da inflação é um fenômeno mundial, como diz Guedes. No entanto, países com alguma gestão – não se pode nem falar em "boa gestão", considerando que o Paraguai tem inflação acumulada em 12 meses de 6,4% – sofrem menos com o problema do que o Brasil.
E apesar de os especialistas em preços confirmarem outra tese de Guedes – cerca de metade da alta da inflação está vinculada só a produtos e serviços de energia –, avisam que, ao contrário do que diz o ministro, o fogo do dragão se espalhou para toda a economia. É crucial ter um bom diagnóstico para garantir tratamento adequado. Guedes confunde o paciente e erra na profilaxia ao seguir relativizando a doença.
Quebrados ou em guerra
Venezuela: 2.720%
Sudão: 388%
Líbano: 138%
Síria: 71,51%
Suriname: 59,8%
O pelotão do Brasil
Gana: 10,6%
Burundi: 10,47%
Brasil: 10,25%
Belarus: 10,2%
Turcomenistão: 10%
Os ricos
Estados Unidos: 5,4%
Canadá: 4,1%
Reino Unido: 3,2%
União Europeia: 2,5%
China: 0,8%
Os latino-americanos
Argentina: 51,4%
Haiti: 12%
Paraguai: 6,4%
Chile: 5,3%
Colômbia: 4,5%
Fonte: Trading Economics, com checagens da coluna por amostragem