O projeto de jornalismo investigativo internacional Pandora Papers expôs neste domingo (3) os US$ 9,55 milhões mantidos pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, na empresa chamada Dreadnoughts International, nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal no Caribe.
À revista piauí (clique aqui para ver a íntegra), uma dos integrantes do projeto no Brasil, Guedes não negou a existência da offshore (como são chamadas empresas virtuais abertas no Exterior, a maioria para driblar tributos), ao contrário: disse ter informado a Comissão de Ética Pública assim que assumiu, e nenhuma irregularidade foi apontada no julgamento, em julho de 2020.
Conforme mostram os documentos obtidos no projeto, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, também teve uma conta no Exterior, mas a fechou em outubro de 2020. Economistas e especialistas em gestão pública avaliam que, de fato, pode não haver ilegalidade, mas a situação cria grande constrangimento para Guedes.
Um dos motivos é o artigo 5º do Código de Conduta da Alta Administração Federal (clique aqui para ler os termos), que proíbe aplicações financeiras, no Brasil ou no Exterior, que possam ser afetadas políticas de governo sobre as quais "a autoridade pública tenha informações privilegiadas, em razão do cargo ou função".
Outro é o fato de Guedes ter advogado a estratégia "juro baixo e dólar alto". Agora, as redes sociais estão congestionadas de comentários sobre o ganho do ministro com as perdas do real. A offshore foi criada em setembro de 2014, quando a cotação resultava em R$ 23 milhões. Hoje seriam R$ 51 milhões. No mundo de Guedes, a conversão é o que menos importa, até porque se não houver nacionalização dos recursos, não haverá ganho.
Mas como principal responsável –praticamente único, porque quis unificar os ministérios da área – pela política econômica do país, ter "lucrado" enquanto a inflação devora a renda das famílias envolve mais do que apenas constrangimento. Offshores são muito mais comuns do que nós, cidadãos da planície, imaginamos. É só ver a extensa lista de banqueiros brasileiros que aparecem no Pandora Papers com contas lá fora. Mas para alguns pega mais mal do que para outros.
O Pandora Papers é um projeto do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e reuniu cerca de seiscentos profissionais e 150 veículos de imprensa no mundo. No Brasil, participaram a revista piauí, os sites Poder360 e Metropoles, além da Agência Pública.