Para um cidadão qualquer, carregar R$ 505 mil em dinheiro vivo na mala já faria uma sobrancelha levantar. Nesta sexta-feira (3), o prefeito de Cerro Grande de Sul, Gilmar Alba (PSL) afirmou em entrevista ao vivo à Rádio Gaúcha que tem esse hábito porque, assim, "faz bons negócios".
Para deixar mais claro, afirmou que "todo mundo sabe" que "a pessoa com dinheiro vivo é outro mundo". O que "todo mundo sabe", de fato, é que as transações em espécie escapam de um custo: a tributação.
Em outras palavras, a principal "vantagem" dos negócios feitos em dinheiro vivo é a sonegação de impostos. Se fosse só um negociante, Alba seria um cidadão sem consciência, que coloca interesses imediatos acima das normas éticas. Mas é ainda mais complicado: neste momento, é um gestor público, que tem entre suas obrigações zelar pelo patrimônio e pela arrecadação da prefeitura de sua cidade.
Ao dizer que busca as vantagens das compras com moeda sonante, Alba levanta não uma, mas duas sobrancelhas: é um gestor público que admite fazer negócios que, no mais benigno dos pontos de vista, facilitam a sonegação. Quando passam pelo sistema financeiro, as transações ficam registradas, o que ao menos torna mais difícil contornar o sistema tributário.
Isso significa que ficam mais sujeitas ao pagamento de impostos federais, como PIS/Cofins, estatuais, como ICMS, e municipais, como o Imposto sobre Serviços (ISS). Os negócios do prefeito, eventualmente, têm potencial para reduzir a arrecadação do município que administra, portanto.
E esse não é o principal problema. Durante a entrevista, o prefeito de Cerro Grande do Sul reclamou, com razão, da punição branda ao ex-ministro Geddel Vieira Lima, que foi beneficiado com prisão domiciliar depois de condenado a 14 anos e 10 meses de prisão em regime fechado, por lavagem de dinheiro e associação criminosa. Geddel se tornou famoso por guardar R$ 51 milhões em dinheiro vivo em nove malas - não apenas uma.
Qual é a diferença? A quantidade de malas? O volume de dinheiro? Para Alba, deve ser, já que o tom das suas respostas foi de desdém em relação ao valor transportado. Segundo o prefeito de Cerro Grande do Sul, R$ 505 mil "não dá nem para comprar um carro bom" (clique aqui para ouvir, porque se eu não tivesse ouvido, não teria acreditado).