O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
As chuvas da primeira semana de setembro trouxeram uma falsa sensação de normalidade. Pelo menos no que se refere ao nível dos reservatórios hídricos do país e também do Estado. Dez dias atrás, portanto, antes das precipitações, as bacias da Região Sul operavam em 28,5%. Depois das chuvas, estão em 24,5%. No mesmo período, as do Sudeste desceram de 20,8% para somente 18,9% da capacidade. No Norte e no Nordeste, exportadores de energia para o Sistema Interligado Nacional (SIN), as baixas são de 68,8% para 66,8% e de 48,7% para 46,3%, respectivamente.
Apesar da tesão entre os poderes em Brasília, a crise hídrica é, ou deveria ser, a expressão da vez no país. É que o risco de apagão tem causado os recentes aumentos na conta de luz e um efeito cascata na economia. O problema é motivado pela estiagem que afeta os reservatórios do Sudeste, na maior seca da região em 91 anos. E, por aqui, a situação também preocupa.
Este é o 7º ano com chuvas abaixo da chamada média de longo termo (MLT). Em função disso, os reservatórios das hidrelétricas recebem volumes de água inferiores, o que não permite ao sistema recuperar os níveis adequados de armazenamento.
A solução tem sido recorrer às usinas térmicas. E, para cobrir os custos deste tipo de geração, que utiliza combustíveis ao invés de água, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) chegou a criar uma nova bandeira tarifária. Para se ter uma ideia, a cobrança extra para cada 100 quilowatts-horas (kW/h) na conta de luz dos brasileiros começou o ano em R$ 1,34 e chegou em R$ 14,20 em setembro. Uma sobrecarga superior a 950%.
A estimativa indicava a necessidade de R$ 9,2 bilhões a mais do bolso dos consumidores para arcar com o acionamento das térmicas até 2022. Agora, o custo já é avaliado em R$ 13,1 bilhões.
Não há inflação que aguente mais esse rojão. E não é à toa que o índice oficial de inflação do país, divulgado na quinta-feira passada, o IPCA, atingiu o maior patamar em duas décadas para o mês de agosto e acumula alta de 9,68% em 12 meses. Ao que tudo indica, vai ser preciso apertar um pouco mais os cintos, se ainda sobrar algum buraco, é claro.