Em menos de 60 dias, a CPFL Energia deve assumir o comando da área de transmissão da CEEE, arrematada em leilão por R$ 2,7 bilhões. Conforme Vitor Fagali, vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da companhia controlada pela chinesa State Grid, a aplicação dos R$ 1,5 bilhão anunciados no dia da aquisição deve começar em 2022. O executivo também afirmou que a CPFL estuda participar do leilão da última parte da CEEE a ser privatizada, a de geração, até por já se ser sócia da estatal em três usinas. Segundo Fagali, a CPFL já tinha um investimento importante no Estado, a RGE, e agora fez outro, em transmissão, porque sempre teve "ótimo relacionamento no Rio Grande do Sul" que "dá confiança para continuar investindo".
Quando a CPFL assume a área de transmissão da CEEE?Ainda estamos na fase de documentação para o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). A estimativa é para meados de outubro.
O que vai mudar na gestão da CPFL?
Há previsão de investimentos necessários para modernizar e reforçar as linhas de transmissão de R$ 1,5 bi em cinco anos. Além disso, a CPFL atende a dois terços da distribuição no Estado, com a RGE. Cerca de 80% da estrutura da RGE se conecta com linhas da CEEE. Então, há expectativa de que, com parte desse investimento, tenhamos reflexo positivo na distribuidora para reduzir duração e frequência de cortes no abastecimento.
Para deixar claro, a CPFL só vai investir em transmissão na área de concessão da RGE?
Claro que não, vamos investir no Estado como um todo, inclusive na região da Equatorial.
Na parte é operacional, é possível melhorar a qualidade do serviço tanto na transmissão quanto na distribuidora. Por exemplo, quando há uma emergência, as equipes de ambas podem trabalhar juntas para solucionar.
Vai buscar alguma outra sinergia com a RGE?
Quando se fala em sinergia, a tendência é ver otimização de custo. Como são segmentos diferentes, não há muito o que fazer nesse aspecto. Na parte é operacional, é possível melhorar a qualidade do serviço tanto na transmissão quanto na distribuidora. Por exemplo, quando há uma emergência, as equipes de ambas podem trabalhar juntas para solucionar.
Quando devem começar os investimentos?
Se entrarmos em outubro, como previsto, vamos ter visão um pouco mais clara. A expectativa é de que já comecemos a organizar e executar os orçamentos dos próximos anos em 2022. Na transmissão, grande parte dos investimentos têm de ser aprovados pelo órgão regulador, é diferente da distribuição.
O que a CPFL fará em relação à fatia que a Eletrobras manteve na CEEE-T?
Temos obrigação, pela Lei das SA, de fazer uma oferta pública da ações. Depois da conclusão do negócio, vamos enviar os documentos para a CVM e fazer uma OPA. Se a Eletrobras e outros minoritários quiserem vender, somos obrigados a comprar. Imaginamos que isso deva estar concluído no final do primeiro trimestre de 2022.
Nossa leitura é de que é um momento que inspira cuidado, porque pode se agravar a cada dia.
O agravamento da crise hídrica, especialmente agora no Sul, embute mais risco na gestão de sistemas de transmissão, pelo balanço carga/demanda?
Nossa leitura é de que é um momento que inspira cuidado, porque pode se agravar a cada dia. Mas nosso cenário-base é não ter racionamento. Pode haver problemas pontuais, dependendo de horário e de carga. O governo está adotando as ações que precisam ser feitas, espero que consiga sofrer menor impacto.
Por que a CPFL não disputou a área de distribuição da CEEE, como havia expectativa?
Como todos os grandes projetos do setor elétrico, a CPFL acompanha e estuda oportunidades. No nosso entender, naquele momento, a equação de risco e retorno não estava balanceada. A CEEE-D é um ativo que tem muito valor, mas, na nossa avaliação, nesse momento, não fazia muito sentido dentro do nosso escopo de disciplina de capital.
A CPFL estuda disputar a privatização da CEEE-G?
Meu papel, como vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios, é estudar. Então, a CPFL está, sim, olhando CEEE-G, até por termos três ativos em que a CEEE-G tem participação, Foz do Chapecó (hidrelétrica no Rio Uruguai, com 9% da CEEE), Ceran (com três usinas a fio d'água - sem reservatório - no Rio das Antas, em Veranópolis, com 30% da CEEE) e Enercan (Usina Hidrelétrica Campos Novos, que fica em Santa Catarina mas tem 6,5% de participação da CEEE). O grande foco, agora, é olhar essas participações, mas a gente olha, também, o ativo como um todo.