Fora do radar mais óbvio da produção de grafeno, uma empresa de São Marcos vem desafiando as probabilidades ao entrar no mercado desse novo material que começa a ganhar peso no Rio Grande do Sul.
A BoomaTech começou produzindo escassos 15 gramas de grafeno, hoje obtém entre 10 e 30 quilos mensais, dependendo da demanda e da especificação, e está concluindo a homologação para alcançar capacidade de cem a 150 quilos mensais a partir de setembro.
O negócio nasceu de uma constatação preocupante: a empresa "mãe", a Master Power, fundada em 1966, que atua com turbinas para ônibus caminhões, estava com o futuro comprometido porque motores elétricos não precisam ser turbinados.
Os primos Isabella e Gustavo Borghetti, ambos formados em Relações Internacionais, lançaram-se ao desafio de projetar o futuro do negócio familiar. Começaram a pesquisar em 2013, percebeu a necessidade de aumentar a capacidade das baterias, finalidade para a qual o grafeno apareceu como material potencial.
O que a BoomaTech faz se chama "eletroesfoliação química a vácuo", o que significa obter lâminas finíssimas, quase invisíveis, do grafite, material original (veja explicação detalhada na reportagem da colega Juliana Bublitz clicando aqui). O Brasil tem a segunda maior reserva do material no mundo. Isabella, que cuida da produção, detalha que a empresa tem várias derivações, com produto em pó, em escamas, diluído em solvente, conforme a aplicação dos clientes:
– Começamos pensando em baterias, mas vislumbramos um mercado muito maior. Até agora, as aplicações mais avançadas são na área de biomedicina, com biosensores para detecção de vírus, em tintas anticorrosivas, em polímeros, para filamentos para impressão 3D. O grafeno é uma substância difícil de homogeneizar. Não dá só para largar o pozinho sobre a resina, exige um processo complexo.
Isabella pondera que ainda há muitos mitos sobre o grafeno, como o preço. Embora confirme que já foi "caríssimo" - quase US$ 1 mil por grama - hoje os tipos mais valorizados estão por volta de US$ 100 por grama e há especificações muito abaixo disso. A ideia de produzir baterias de lítio-grafeno e grafeno puro segue em pé: a BoomaTech já tem protótipos, mas estima necessidade de investir cerca de R$ 30 milhões.
Enquanto não obtém esses recursos, a BoomaTech acumula conhecimento participando de estudos acadêmicos: costuma fornecer grafeno para teses de doutorado em universidades do Norte do Sul do país e se beneficia das conclusões.