O novo passo da Aliança para Inovação, que já gerou o Pacto Alegre e o Instituto Caldeira, será uma rede de pesquisas em baterias para veículos com materiais como grafeno, nióbio e eletrólitos em estado sólido.
A Aliança para Inovação em Baterias vai integrar os laboratórios de materiais avançados, química, física e engenharia das três maiores universidades do Estado: PUCRS, Unisinos e UFRGS.
— Está tudo virando elétrico, os carros, a vida. Faltou tomada, falta tudo. Armazenamento de eletricidade virou item crítico. Por isso, queremos criar um centro para desenvolver tecnologias de armazenagem — detalha Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, coordenador do Pacto Alegre.
O foco do centro será desenvolver e transferir tecnologia para uso na vida real. Projetos específicos devem concorrer em editais da Financiadora de Estudos e Pesquisas (Fipe) e da Rota 203o, programa do setor automotivo que prevê recursos para novas tecnologias.
— Queremos desenvolver soluções que agreguem conhecimento, mas que possam ir para o mercado o mais breve possível. Estamos chamando de "baterias", mas são acumuladores de energia, que podem ter outros formatos, não como a gente imagina hoje. Já estamos operando, conversando com empresas, e queremos expandir para formar uma rede gaúcha — diz Silva Filho.
As baterias de grafeno — material que costuma ser citado pelo presidente Jair Bolsonaro como potencial inexplorado no Brasil — são consideradas um ponto de inflexão na popularização dos carros elétricos: permitem cargas mais rápidas, armazenam mais energia, custam menos e duram mais.
Até há pouco, o grafeno era mais uma promessa do que uma perspectiva real, mas esse cenário mudou nos últimos ano. O trabalho já desenvolvido na Universidade de Caxias do Sul (fotos) com o material será, inclusive, uma das agendas de Bolsonaro na visita prevista para julho.
Descoberto em 2004, o grafeno é uma espécie de "derivado" (perdão, cientistas) do grafite, usado nos lápis. É obtido por um processo chamado de "esfoliação química", como se o grafite fosse dividido em "fatias" microscópicas — em um milímetro de grafite, é possível obter 3 milhões de camadas de grafeno. Os desafios científicos são estabilizar e isolar essas partículas.
Conforme dados da Fapesp, o Brasil é o terceiro produtor mundial de grafite, com 96 mil toneladas em 2019, das quais 73% em Minas Gerais. E o preço do grafeno chega a quase mil vezes o do grafite, dependendo da especificação. Além da UCSGraphene, de Caxias do Sul, só há outro projeto no Brasil, na Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge).
O acordo das três universidades de Porto Alegre, que nasceu em 2018, tem apoio do E-24 Mobility Lab, instituto de ciência, tecnologia e inovação sem fins lucrativos cuja finalidade é fazer a ligação entre a academia e as empresas para projetos de pesquisa e desenvolvimento. A Aliança para Inovação em Baterias tem um comitê estratégico formado por Alsones Balestrin (Unisinos), Jorge Audy (PUCRS), Geraldo Jotz (UFRGS) e Luiz Carlos Pinto da Silva Filho (Pacto Alegre), que vai definir a entrada de participantes na rede.
Pesquisar novos materiais é um dever da ciência e do desenvolvimento de tecnologias. Sobre o potencial do grafeno para o Brasil, é bom que seja visto com cautela: o material promete ser um substituto do lítio, até agora principal material usado em baterias de celular quanto de veículos. O país com os maiores recursos — conceito diferente de reservas, em termos geológicos — de lítio do planeta é a Bolívia.