
O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Diz o ditado que depois da tempestade vem a bonança. E, a julgar pelo intenso movimento do mercado, a frase define o otimismo atual. Basta analisar dados de fusões & aquisições (M&As, na sigla em inglês) produzidos pela PWC Brasil e perceber que o momento é, sim, de preparação para a aguardada retomada econômica, no pós-crise da covid-19.
Até junho, já foram 700 as transações envolvendo a compra de empresas no país. Isso equivale a 67,4% das 1.038 operações realizadas em 2020. Ao persistirem os sintomas, 2021 deverá encerrar com alta de 40% sobre desempenho do ano passado no setor que serve de termômetro para o aquecimento do ambiente de negócios.
Por aqui, não é diferente. O Estado registra 48 M&As apenas no primeiro semestre. Alguns, bastante emblemáticos, como a aquisição do CCG Saúde (antigo Centro Clínico Gaúcho) pelo Grupo Notre Dame Intermédica por mais de R$ 1 bi, e o reforço da BRF no segmento de rações para pet, adquirindo a Hercosul, de Ivoti.
Ou ainda as gaúchas que foram às compras, caso da Colombo que incorporou a rede Feirão de Móveis, de Santa Catarina, e a Castertech, do Grupo Randon, comprando a Menegotti, por R$ 87 milhões.
Apesar de distintas, existe um fio condutor entre as transações mapeadas, não apenas as do Estado. É o que diz o sócio-líder de CF & Deals da PwC Brasil, Leonardo Dell'Oso, ao chamar a atenção para o cenário desenhado na pandemia.
Isso porque existem setores mais afetados (turismo, comércio físico, lazer, aviação civil, hotelaria e hospitais) e uns muito beneficiados (comércio eletrônico, entregas rápidas, agronegócio, alimentos e bebidas, farmacêutico).
De um lado, comenta Dell'Oso, os M&As foram a saída encontrada por empresas que venderam parte ou a totalidade dos negócios para contornar perdas de caixa e sobreviver ao período. Na outra face da moeda, o aquecimento é estratégico.
Ou seja, aquelas operações, que contratavam serviços e insumos de terceiros, acabaram por absorver fornecedores, mirando sempre em margens adicionais e eficiência estrutural para o término da crise sanitária.
— Tanto as prejudicadas, quanto as favorecidas, percebem nos M&As a alternativa para solucionar problemas e isso se reflete no bom momento das transações — analisa.
Dell'Oso também lembra que as grandes crises da história foram marcadas por sequências de euforia e alto consumo.
— Foi assim na Segunda Guerra Mundial, Primeira Guerra Mundial e Revolução Francesa. Assim que as pessoas estiverem vacinadas, sairão às ruas para consumir produtos e serviços. As empresas já buscam posicionamentos para aproveitar esse boom — resume.
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