De um lado, um país que deve perder ao menos 4% de PIB neste ano. De outro, projeções de inflação subindo até 6% em 2021. Se o Banco Central (BC) começar a elevar o juro muito cedo, pode comprometer a recuperação prevista para 2022. Se o fizer muito tarde, pode pôr lenha no fogo do dragão.
Foi com esse cenário que o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa básica em 2% ao ano, o que corresponde à metade da inflação oficial previstas para o período. Mas mais do que essa decisão, amplamente esperada, o que o mercado queria ver era o comunicado do BC.
Como também se esperava, o Copom retirou do texto a expressão "o espaço remanescente para para corte de juro, se houver, deve ser pequeno", mantida desde o corte mais recente, em agosto, com pequenas variações. E até mencionou, com prudência, o que o mercado já considera favas contadas, o iminente aumento da taxa básica: "a manutenção desse cenário de convergência da inflação sugere que, em breve, as condições para a manutenção do forward guidance podem não mais ser satisfeitas, o que não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros pois a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade".
É culpa da vilã que-não-pode-ser-nomeada, enfim reconhecida pelo BC: "as últimas leituras de inflação foram acima do esperado e, em dezembro, apesar do arrefecimento previsto para os preços dos alimentos, a inflação ainda deve se mostrar elevada".
Mesmo assim, afirma que "os choques atuais são temporários, mas segue monitorando sua evolução com atenção, em particular as medidas de inflação subjacente" (também chamada de núcleo da inflação, que dá a tendência de alta de preços). O Copom admitiu que, neste ano, o IPCA vai passar do centro da meta e fechar em 4,2%. No entanto, foi superotimista na projeção para 2021: 3,3%.
O comunicado também quitou outra dívida do BC com o mercado, ao admitir que "o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária". Na reunião anterior, o comunicado mais suave frustrou expectativa de economistas para não mencionar esse "risco fiscal elevado".
Quais são os principais índices de inflação
IGPs: Índices Gerais de Preços, calculados pela Fundação Getulio Vargas. Têm três variações, IGP-M, IGP-DI e IGP-10, com diferença apenas no período de apuração. Cada um é composto por três subíndices: Índice de Preços no Atacado (IPA), com peso de 60%, Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com peso de 30%, e Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), com peso de 10%.
IPCA: Índice de Preços ao Consumidor Ampliado, calculado pelo IBGE, é considerado o índice oficial do Brasil porque serve de referência para o Banco Central. Mede a variação de preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e 40 salários mínimos.
INPC: Índice Nacional de Preços ao Consumidor, também do IBGE, mede a variação nos preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e oito salários mínimos. É a referência para negociações de reajustes salariais.
IPCs: Índices de Preços ao Consumidor calculados pela FGV, tem quatro variações, entre as quais a mais conhecida é o IPC-S.