Quando começaram as reclamações sobre aumentos de preços no pontos de venda, os economistas tentaram tranquilizar a população, ponderando que não se tratava de inflação.
Era uma pressão momentânea, que desapareceria em poucos meses. A recessão se encarregaria de frear os repasses. Uma exceção, André Braz, coordenador dos índices de preços da do FGV Ibre, admitiu que os preços ainda subiriam antes de voltar ao normal.
Agora, está mais claro: aquela-que-não-pode-ser-nomeada, a vilã que se equivale ao Voldemort das histórias de Harry Porter, deveria ter sido banida, mas voltou. Era inflação, e será ainda mais inflação em 2021. Nesta terça-feira (8), o IBGE confirmou que o IPCA, considerado o índice oficial brasileiro, acelerou em novembro para 0,89%, a maior alta no mês desde 2015. Em 12 meses, a alta acumulada é de 4,13%, já acima do centro da meta do Banco Central (BC).
E em 2021, a taxa anualizada vai crescer até 6% antes de voltar a se acomodar – se tudo der certo –, advertem dois economistas que são referência no Estado. Nesta terça-feira (8), ao apresentar projeções para 2021, o economista-chefe da Fiergs, André Nunes de Nunes, apresentou uma tela cujo título era "pandemia desperta o vírus da inflação". Nunes acentuou que um dos componentes dos IGPs (entenda no quadro abaixo), o Índice de Preços no Atacado (IPA), já subiu inacreditáveis 34,2% entre janeiro e novembro. O IPA é o superespalhador de inflação, que não respeitou a restrição recessiva.
Na projeção da Fecomércio, na semana passada, o assessor econômico Marcelo Portugal afirmou que "a inflação brasileira está parcialmente grávida dos IGPs". Ele se referia ao fato de que o IPCA acumulado em 12 meses está na casa de 4%, mas os IGPs acumulados passam de 20%:
– De janeiro a maio, a inflação vai andar para cima, e deve chegar a 6% em meados de 2021. Vamos ver uma inflação bem salgada nos próximos meses, com altas no preços de carne, óleo, frango. Essa diferença (entre os IGPs e o IPCA) significa que vai subir mais. É importante que o combate à inflação seja feito no primeiro trimestre, para que comece a cair no segundo semestre.
Quais são os principais índices de inflação
IGPs: Índices Gerais de Preços, calculados pela Fundação Getulio Vargas. Têm três variações, IGP-M, IGP-DI e IGP-10, com diferença apenas no período de apuração. Cada um é composto por três subíndices: Índice de Preços no Atacado (IPA), com peso de 60%, Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com peso de 30%, e Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), com peso de 10%.
IPCA: Índice de Preços ao Consumidor Ampliado, calculado pelo IBGE, é considerado o índice oficial do Brasil porque serve de referência para o Banco Central. Mede a variação de preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e 40 salários mínimos.
INPC: Índice Nacional de Preços ao Consumidor, também do IBGE, mede a variação nos preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e oito salários mínimos. É a referência para negociações de reajustes salariais.
IPCs: Índices de Preços ao Consumidor calculados pela FGV, tem quatro variações, entre as quais a mais conhecida é o IPC-S.