Sempre que há uma tempestade mais forte no Rio Grande do Sul, é a mesma novela: falta luz, e a interrupção no abastecimento de energia afeta o fornecimento de água. Dezenas de milhares de gaúchos têm de esperar a normalização dos serviços durante dias.
Entre as reações irritadas dos gaúchos a essa situação, estão comentários como "privatiza a CEEE que resolve". Mas a venda da estatal poderá, de fato, acelerar a religação de luz depois dos temporais?
A resposta curta é "sim", mas não seria honesta sem os complementos "em parte" e "não imediatamente". Uma das maiores expectativas do mercado com a privatização da distribuidora da CEEE é o aumento dos investimentos, não para revolucionar o serviço, mas apenas para garantir qualidade mínima. Isso pode acelerar, por exemplo, a troca dos velhos postes de madeira, que caem com vento um pouco mais forte, por estrutura de concreto, mais resistentes.
No entanto, é preciso observar que esse tipo de providência ainda está na agenda da distribuidora privada de energia que atua no Estado, a RGE, mais de 20 anos depois da desestatização. Significa que vai ser preciso esperar até melhorar. Também pode dar velocidade a uma providência que a subsidiária da CPFL está tomando agora: a automatização das redes, para permitir religação automática quando a rede não for interrompida fisicamente.
Nos últimos anos, o valor do investimento na rede feito pela CEEE-D vem caindo: foi de R$ 237,8 milhões em 2016 para a projeção de R$ 133,4 milhões neste ano (veja detalhes na tabela abaixo). Para entender essa queda, é bom lembrar que a companhia só segue operando porque "sequestra" o valor de ICMS pago pelos clientes, em dívida acumulada de R$ 3,4 bilhões e projetada para R$ 4,4 bilhões até a data prevista para a troca de mãos, em abril de 2021. Enquanto isso, a RGE, que tem o dobro do mercado da CEEE-D no Estado, aplicou R$ 670 milhões só até outubro.
Nos dados que teve de abrir par potenciais investidores, a CEEE-D deixou clara sua deficiência na qualidade do serviço: o limite tolerado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para a duração das interrupções ao longo de todo este ano é de 9,9 horas. Até outubro, a estatal já havia deixado seus clientes sem luz por 19,8 horas. Isso que o indicador "despiorou", porque chegou a 27,5 horas em 2014. E aí vem uma notícia não muito boa: para permitir que o novo controlador se organize, o Ministério de Minas e Energia aceitou prorrogar até 2026 a cobrança do cumprimento da meta de 9,9 horas.
Mesmo com a recuperação da capacidade de investimento, o eventual controlador privado da CEEE-D enfrentará a mesma realidade da estatal: tempestades em número e intensidade crescentes são uma das consequências da mudança climática. Esse fato exige recursos e esforços para frear o fenômeno e protocolos de prevenção.
Os investimentos da CEEE-D
2016 R$ 237,8 milhões
2017 R$ 211 milhões
2018 R$ 296,4 milhões
2019 R$ 167,3 milhões
2020* R$ 133,4 milhões
(*) projeção até o final do ano
Fonte: CEEE-D