Tem gaúcho no comando dos negócios da empresa que virou o principal alvo dos Estados Unidos nos últimos anos. Mateus Cardoso Martini, nascido em Porto Alegre e formado em Engenharia Elétrica pela PUCRS, é diretor regional da Região Sul da chinesa Huawei.
No mês passado, os Estados Unidos criaram a Clean Network (Rede Limpa), com o principal objetivo de vetar a participação da Huawei e de outra chinesa, a ZTE, na implantação de redes de telefonia celular de quinta geração, o 5G.
Para justificar a criação da Rede Limpa, os americanos costumam afirmar, sem provas, que a Huawei faz espionagem sob as ordens do governo comunista da China. Foi um comentário replicando esse argumento, feito pelo deputado Eduardo Bolsonaro ((PSL-SP), há poucos dias, que despertou reação irada da Embaixada da China no Brasil. Desmitificar a atuação da Huawei, diz Martini, é um de seus papéis. A coluna, claro, perguntou sobre as acusações de espionagem:
– A Huawei é uma empresa 100% privada, não é parte do governo chinês ou de qualquer outro país. Temos muita tranquilidade em relação a isso porque é uma das empresas mais transparentes do mundo. Temos dois centros globais para realização de auditorias, um na China e outro em Bruxelas, na Bélgica, onde recebemos governos e empresas que tenham dúvidas sobre nossa atuação. É uma das poucas empresas que abrem o código-fonte, que é uma propriedade intelectual. Nesses 22 anos de Brasil, nunca houve sequer um problema de cibersegurança. No mundo, a Huawei tem 2,3 mil pessoas focadas nessa área por saber que um incidente desse tipo pode ser mortal para uma empresa.
A expectativa da Huawei sobre a definição do 5G no Brasil é a mesma do governo brasileiro, ao longo do primeiro semestre de 2021. Lembra que a empresa chinesa não participa diretamente do leilão, que é uma disputa por faixas de frequência entre as operadoras. Para barrar a participação, as regras teriam de envolver os fornecedores, o que não é usual.
– As operadoras atuam em livre mercado, por isso nossa expectativa é positiva. Esperamos que o governo e as operadoras atuem com base em decisões técnicas, garantindo a livre concorrência, sem discriminar A, B ou C, o que é extremamente relevante em um ambiente altamente tecnológico – detalha Martini.
Martini lembra que a Huawei está no Brasil há 22 anos, desde a privatização das telecomunicações, em 1998. Desembarcou para auxiliar na construção da infraestrutura de comunicação. Tem cerca de mil funcionários no Brasil e outros 15 mil terceirizados, que fazem a instalação dos equipamentos. No ano passado, a contribuição da Huawei em impostos foi de R$ 1,44 bilhão e as compras locais foram de R$ 630 milhões, diz o executivo.
Portanto, quem usa 3G ou 4G no Brasil já usa o equipamento da Huawei. A empresa chinesa produz, inclusive com fábrica no Brasil, torres de celular completas, incluindo antena e unidades de potência, de refrigeração e de processamento. Segundo Martini, a Huawei tem de 40% a 50% do mercado de banda larga móvel no Brasil.