Ao final de um ano desafiador, a Associação Gaúcha de Microcervejarias (AGM) tem novo presidente, João Giovanella. Segundo ele, a maior urgência é manutenção do imposto reduzido para toda cadeia produtiva das cervejarias.
]Em dezembro de 2019, o governador Eduardo Leite determinou a diminuição da carga tributária para produtores de até 200 mil litros mensais de 27% para 13%, reduzindo o preço para o consumidor, mas só até 31 de dezembro de 2020.
Conforme informações ainda não 100% confirmadas, o benefício teria sido prorrogado até julho de 2021. Dados do Anuário da Cerveja 2019, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, indicam que o Rio Grande do Sul concentrava 236 cervejarias em 2019, o que representa um crescimento de 28,9% , em relação ao ano anterior. O Estado fica atrás apenas de São Paulo, que tem 241 cervejarias. Porto Alegre tem o maior número entre todos os municípios do país, com 39 produtoras de cerveja, ante 27 da capital paulista.
Segundo Giovanella, a redução foi fundamental para não tornar a situação do setor ainda mais grave. As microcervejarias foram muito afetadas pelo fechamento dos estabelecimentos comerciais e pela suspensão dos eventos, e precisaram mudar:
– Não podemos mais contar só com a venda do barril (concentrada em bares, restaurantes e eventos). Em algumas empresas, esse modelo de negócio representava cerca de 80% da demanda. O setor teve de se reinventar, apostando na venda de garrafas e latas.
Giovanella coordena a Salva Craft Beer, nascida em Bom Retiro do Sul. No momento mais agudo da pandemia, a empresa cogitou fechar as portas e reabrir somente quando o cenário fosse mais favorável, já que a venda para bares e restaurantes representava 80% da demanda:
– Vivemos os dois extremos. Paramos, passamos a régua e pensamos 'vamos fechar'. Quando autorizaram as cervejarias a fabricarem álcool gel, conseguimos sobreviver por dois meses. A virada no cenário aconteceu quando apostamos em garrafas e latas, alternativa que se mostrou muito eficaz. Hoje temos canal de atendimento só para esse tipo de produto.
Além do delivery – canal que tinha desde o nascimento –, a venda para mercados de bairro também ajudou a Salva neste ano. Segundo Giovanella , outras empresas do setor também estão apostando nesse nicho:
– É mais simples do que para grandes redes. O delivery é ótimo, faz canal direto com o consumidor final. Para quem começou do zero, nem sempre foi um caminho assertivo, pois não é rápido de montar. No nosso canal, o número de pedidos explodiu.
O setor enfrenta falta de garrafas e papelão. Giovanella detalha que é um problema recorrente em finais de ano, mas foi agravado pela pandemia. Avalia que está relacionado a redução de funcionários e suspensão forçada de atividades de fornecedores dos insumos. Mesmo com estoque, a Salva também foi afetada pelo desabastecimento.
– A indústria nunca está preparada para os meses de outubro, novembro e dezembro. Por causa da pandemia, as grandes indústrias consumiram seus estoques, a impressão é que eles não estavam preparados para a retomada do setor. Por isso, tirei de circulação os produtos de alta demanda da Salva. Garrafas de 600 milímetros da linha Barriista, por exemplo, só estamos fornecendo para o Zaffari – afirma.