Assim como outros setores, a indústria têxtil está enfrentando o desabastecimento de uma matéria-prima essencial na sua produção: o algodão. As empresas do setor sofrem com a falta da fibra natural, utilizada no setor em forma de fio compacto e tecidos, porque o produto foi destinado à exportação.
Na loja A Catarinense Tecidos, de Porto Alegre, que vende para atacado e varejo, a falta
de algodão afeta a venda de produtos como o tricoline, muito usado para confeccionar camisas. Segundo Germano Didonet, gestor de compras da empresa, o preço dos produtos feitos com a matéria-prima aumentou até 20%:
— Temos dificuldade de encontrar alguns materiais. Há uns meses, as fábricas não nos davam nem previsão para entregar. Atualmente, estamos enfrentando atrasos. Fiz um pedido em agosto e era para chegar em novembro, mas ainda não veio. Também fomos afetados pela falta de seda no mercado.
Segundo Franciane Severo, gerente de vendas da loja Maxi Têxtil, na zona norte da Capital, no momento mais agudo do desabastecimento a loja criou uma lista de espera para conseguir atender os clientes que buscavam tecidos de algodão:
— Chegamos a formar uma lista de espera entre os clientes. Ainda estamos enfrentando problemas. Chegamos a pagar 20% mais pelos tecidos.
Conforme a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), a estimativa é que a situação se normalize até o final do primeiro trimestre de 2021. Seu presidente, Fernando Pimentel, afirmou em entrevista coletiva em 17 de dezembro, esperar que, até o final de março, a situação esteja "razoavelmente normalizada", inclusive no fornecimento de insumos, como papelão para embalagem. Segundo Pimentel, ainda há problemas, mas menores em relação ao momento mais complicado.
O Brasil está entre os cinco maiores produtores de algodão do mundo, ao lado de países como a China. Segundo a Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), a safra 2019/2020 foi "histórica em volume e quantidade" ao produzir 2,9 milhões de toneladas de algodão, 5% acima da safra 2018/2019.
Entretanto, com a alta do dólar e a demanda externa aquecida, os produtores estão apostando ainda mais no mercado externo. Do total, cerca de 2,3 milhões de toneladas foram destinadas para exportação e 700 mil toneladas à demanda interna. Conforme dados do Ministério da Economia, a venda de algodão para o Exterior aumentou 21,28% de janeiro a novembro, comparada a igual período de 2019.
*Colaborou Camila Silva