Na semana da Consciência Negra, a coluna abordou a criação de vagas de estágio exclusivas para pessoas negras. Na véspera da data que não é feriado no Estado, João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, morreu espancado em um supermercado Carrefour de Porto Alegre.
Não são pontos sem ligação. Por vidas como a de João Alberto, é preciso atuar para diminuir o abismo de desigualdade entre brasileiros com diferentes cores de pele. A criação de vagas de trabalho exclusivas para pessoas negras é só uma das formas de evitar novos crimes.
Embora as vagas de estágio exclusivas para pessoas negras não tenham provocado a polêmica causada por iniciativa semelhante adotada pelo Magazine Luiza há dois meses, a coluna recebeu e-mails de leitores questionando sobre "racismo reverso". Para muitos brancos, ainda é difícil entender que injustiça é tratar de forma igual pessoas em situação muito diferente. A colunista que assina esta nota é branca, portanto passível de incorrer em "vieses inconscientes" de racismo. Admitir essa possibilidade é condição para evitá-la.
Até há poucos anos, eram tolerados anúncios de emprego com o requisito "boa aparência" que, em muitos casos, significava "não negro". Deixaram de ser. Mas as barreiras para acesso de todas as cores a bons postos de trabalho ainda são gigantescas. Começam na desigualdade na educação, seguem nas condições de moradia.
Ainda é preciso avançar quilômetros-luz na direção de um mercado de trabalho e um ambiente de negócios menos racistas. Embora iniciativas como a da Magalu e a da Estagiar tendam a se multiplicar, ainda são exceção, não regra. Reações como a que está marcando o crime contra João Alberto podem fazer diferença.
Que a agressão desmedida — quaisquer que tenham sido as circunstâncias que a provocaram — contra João Alberto tenha ocorrido cinco meses depois da morte de George Floyd torna o ambiente menos respirável para todo ser humano. Ainda está sob investigação a hipótese de que a morte em Porto Alegre tenha sido provocada por asfixia, em situação muito semelhante à de Floyd. Precisamos aprender com nossos erros como sociedade e como humanidade.
A coluna sabe de seus limites, mas está comprometida em fazer a sua parte: as 47 vagas para o processo seletivo exclusivo para pessoas negras estão com inscrições abertas até 4 de dezembro, no site www.estagiar-br.com.br/programas-estagio/programa-de-estagio-pretecer-2021/89.
* Colaborou Camila Silva