Um certo mau humor com a retomada lenta da economia brasileira provocou cancelamentos em série de ofertas de grandes pacotes de ações no mercado no ano passado. Esses processos foram retomados ainda em plena pandemia, com bons resultados.
Só no primeiro semestre, o mais impactado pelo coronavírus, ocorreram 12 grandes lançamentos de ações, tanto pela primeira vez (IPOs, na sigla em inglês) quanto de empresas que já tem papéis negociados (follow on, no jargão do mercado).
– É algo que traz surpresa para todos nós – diz Carlos Peres, sócio líder da PwC Brasil na região Sul.
No início deste ano, lembra, havia expectativa de que muitos IPOs fossem destravados, mas a pandemia suspendeu tudo. Na época, havia 18 companhias com processos desse tipo aberto.
– Agora, o mercado de IPOs voltou forte – observa.
A causa principal, avalia Peres, é a velha e boa necessidade: a crise fragilizou muitas empresas, que agora precisam se capitalizar. Com o crédito travado e com taxas ainda elevadas, considerado o juro básico de 2% ao ano, o mercado de capitais virou um uma alternativa interessante.
– As empresas vão buscar recursos onde é mais barato. O juro está baixo, e deve ficar assim por um bom tempo. Com isso, muitos investidores também saem de aplicações tradicionais e procuram alternativas na bolsa – observa Peres.
O sócio da PwC lembra que a bolsa tem três grupos de investidores: os estrangeiros, que refluíram, os fundos de investimento e as pessoas físicas. Em busca de maior rentabilidade, esses dois grupos têm sustentado os bons resultados das ofertas de ações feitas neste ano. , A PwC do Sul está liderando neste momento cinco processos de IPOs ou follow ons – mas Peres não pode dizer quais são.
– Tem há o efeito do câmbio. Como o dólar subiu, as empresas brasileiras ficaram baratas, então há oportunidade para estrangeiros comprarem fatias a preço baixo. A combinação desses fatores trouxe uma onda de IPOs. De um lado, há empresas precisando se capitalizar, ou captar recursos para crescer no pós-crise, e de outro há ofertas baratas e atraentes.
Outro motivo que leva a oferta de ações, acrescenta o especialista, é dar liquidez a sócios de empresas familiares. Em momentos em que há três ou quatro famílias com interesses diferentes no controle dos negócios e há dificuldades para resolver eventuais controvérsias "dentro de casa", vai para o mercado, abre o capital, e cada um faz o que quer com sua parcela de ações.
Se até agora as empresas que já completaram seus processos conseguiram preços "perto do topo", como observa Peres, a perspectiva para o segundo semestre é de que os valores atinjam os máximos projetados.
– Como tem apetite no mercado, e os resultados do segundo trimestre foram ruins, mas não tanto, o fato de que as empresas mantiveram saúde financeira, garantiram continuidade operacional e se vê o mercado retomando em 2021, fecha a equação do otimismo.
Confira a lista de IPOs da pandemia
IPOs
Ambipar (R$ 1,08 bilhão)
Aura Minerals (R$ 790 milhões)
Allpark ( R$ 345,3 milhões)
Quero-Quero (R$ 1,94 bilhão)
Follow on
BTG Pactual (R$ 2,6 bilhões)
XP Investimentos (R$ 5,38 bilhões)
Fonte: Anbima