Até agora, foi eficaz a estratégia do ministro da Economia, Paulo Guedes, de transformar debandada em limonada. Diante da saída de mais dois secretários especiais – Salim Mattar, da Desestatização, e Paulo Uebel, da Desburocratização –, na terça-feira (11), foi para o ataque, explicitando que o motivo era o descumprimento da agenda que ajudou a eleger Jair Bolsonaro.
Usou expressões fortes – "furar teto", "pular cerca" e "zona sombria do impeachment" – para gerar o que ocorreu nesta quarta-feira (12): a renovação do compromisso do presidente com privatizações e teto de gastos.
Primeiro, provocou uma manifestação do presidente nas redes sociais em favor das privatizações e da manutenção do teto de gastos. Como era claramente insuficiente, suscitou a grande e incomum reunião desta quarta-feira (12) para buscar conciliação entre as alas poupança e da gastança. A primeira é a sua, e esse é um grande problema: escassos aliados. A segunda é formada pelos ministros militares, reforçados por Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional. São os artífices do Pró-Brasil, o plano de retomada que ficou conhecido por conter apenas sete telas de power point.
Ao final, Bolsonaro e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), reafirmaram os compromissos com privatizações e teto, mas não apresentaram o essencial: planos e metas.
Ao longo do dia, Guedes recebeu apelos de economistas e empresários para que permaneça no cargo, retomando seu papel de fiador de uma agenda mais liberalizante. Está claro para todos que não será possível fazer o que Guedes acenava durante a campanha eleitoral. Não haverá privatização total e será preciso conviver com gastos maiores do que se esperava, ao menos por algum tempo.
A base de apoio empresarial do presidente aceita os gastos extraordinários, mas essenciais, com a pandemia. Até a aproximação com o Centrão é tolerada para evitar a abertura de um processo de impeachment, caso o presidente cumpra o combinado. Nessa batalha, Guedes parece ter levado a melhor. Mas é bom lembrar que já gastou vidas antes. Pode ter tirado o último às da manga.
Leia mais colunas de Marta Sfredo