Quem conhece bem Clovis Tramontina, presidente do conselho de administração do grupo que tem 10 fábricas e cerca de 8,5 mil funcionários, até se surpreendeu com a disciplina e a observância dos preceitos médicos que o empresário adotou durante a pandemia. Como ele mesmo afirma, gosta de "viver intensamente". Mas o comandante de um dos maiores complexos industriais da América Latina, com marca reconhecida em todos os continentes, diz que não tem recebido ninguém em casa, atento ao fato de integrar dois grupos de risco. Além dos aprendizados objetivos com a crise, como o uso de tecnologia para substituir viagens, suas reflexões ecoam os escritos de Chico Xavier, embora não seja espírita:
– Momentos como este vêm para evoluirmos como pessoas
Isolamento
"Trabalho em home office desde o início da pandemia porque integro duas categorias do grupo de risco: tenho 65 anos e uma doença neurológica, esclerose múltipla. Faço parte do Comitê Gestor de Crise da Tramontina e tenho um escritório em casa. Com as novas tecnologias, conduzo e participo de várias videoconferências, videochamadas, webinars e lives, tanto interna quanto externas. Estamos recebendo uma quantidade enorme de conteúdos. Fui pouco à empresa de forma presencial e não tenho recebido ninguém em casa. Tecnologias facilitam o contato com as pessoas e possibilitam uma comunicação eficiente, o que seria impossível há alguns anos atrás."
Leituras e vídeos
"Minhas leituras diárias e noticiários são ZH, Jornal do Comércio, G1 e BandNews. Os livros do momento são O Gerente Noturno (John Le Carré) e O Ouro de Mefisto (Eric Frattini). Nunca assisti a tantos conteúdos em canais pagos quanto agora. Mas tenho uma disciplina: faço isso após as 20h, quando eu e minha esposa escolhemos uma série ou filme e assistimos juntos."
Combate ao coronavírus
"Tenho encarado com solidariedade às pessoas e às instituições. Estamos vivendo um momento crítico e delicado. É tempo de adaptação, em que a estratégia tem de ter certa flexibilidade para atingirmos algum resultado. Pessoalmente, tenho tido muita atenção com a saúde e os cuidados pessoais, seguindo os protocolos indicados. Faço fisioterapia duas vezes na semana e bicicleta diariamente. Mas confesso que não está fácil, porque sempre fui uma pessoa que preza pelos relacionamentos, por estar próximo às pessoas, cumprimentar. Sinto falta dessa proximidade. Como otimista nato, torço muito para sairmos o quanto antes do isolamento e das restrições."
Aprendizado
"O que mais me chamou atenção é que fazíamos muitas coisas que não eram tão necessárias, ou que poderiam ser feitas de forma diferente. Claro que as tecnologias ajudaram muito, facilitando as conexões, evitando deslocamentos, otimizando nosso tempo e investimento. Eu costumava ir a São Paulo uma ou duas vezes ao mês. Faz mais de cem dias que não vou. Percebo que os negócios ocorrem da mesma forma. Certamente, iremos viajar menos, faremos viagens mais planejadas e as reuniões serão muito mais objetivas e menos presenciais. Vamos otimizar nosso tempo, sendo mais objetivos e produtivos, gastando menos."
Reflexões
"Gosto de viver intensamente e tudo isso me fez perceber que somos muito frágeis. O vírus invisível derrubou a sociedade mundial. Estamos neste momento histórico, quase uma guerra, em que boa parte da população teve sua liberdade afetada, tendo que ficar em casa – quem pode, é claro. Estamos vulneráveis e à mercê do desconhecido. O ser humano precisa viver em sociedade, em comunidade, e entendo que a luta será para voltar ao normal. Não gosto do termo 'novo normal', entendo que vamos mudar alguns conceitos, mas que voltaremos ao convívio social, com mais cuidado e consciência. Certamente usaremos mais as tecnologias na comunicação e nos negócios e estaremos mais conscientes com relação a nossas fragilidades. Caberá aos governantes melhorar nossa estrutura de saneamento, para prevenir as doenças e melhorar a saúde da população. Como otimista que sou, acredito na mensagem de Chico Xavier: 'Isso também passa. Momentos pelos quais temos que passar sejam bons ou não'. Entendo que vai passar e que vamos sair melhores, pois aprendemos que momentos como este vêm para evoluirmos como pessoas e profissionais."