Esclarecimento: até as 17h10min, o texto informava medidas no valor de R$ 145 bilhões, mas o BC calcula potencial total de estímulo a crédito em R$ 272 bilhões. O valor atualizado já consta neste texto.
Foi preciso esperar quase cem dias desde a entrada do Brasil no sistema de distanciamento social para combater o coronavírus, mas enfim o Banco Central (BC) anunciou, nesta terça-feira (23), um pacote de medidas de crédito que pode atenuar o impacto econômico da pandemia. O potencial de expansão de crédito representados pelas medidas, segundo o BC, chega a R$ 272 bilhões.
Justo quando há preocupação com a necessidade de interromper outra vez o funcionamento de empresas em boa parte do Rio Grande do Sul, especialmente em Porto Alegre, a maior oferta de crédito pode ser a ponte até a retomada de alguma normalidade. O principal objetivo das medidas é resolver as dificuldades que até agora vinham emperrando o acesso a crédito, especialmente para as empresas menores.
Conforme a apresentação do presidente do BC, Roberto Campos Neto, uma das mudanças é a permissão para usar o mesmo imóvel como garantia para mais de um empréstimo. A estimativa de acréscimo no volume de crédito com essa medida é de R$ 60 bilhões, conforme a instituição. Os detalhes estão no site do BC e podem ser acessados por este link.
Mais esperada, a linha de capital de giro para preservação de empresas prevê empréstimos novos para micro, pequenas e médias empresas, com prazo mínimo de três anos e carência de capital de seis meses. Tem um problema: o risco de crédito é todo da instituição financeira, o que tende a complicar o acesso. Mas o potencial estimado pelo BC é o maior de todas as novidades: R$ 127 bilhões.
A mudança no cumprimento de exigibilidade de depósitos compulsórios sobre depósitos de poupança pode aumentar a liberação de recursos para operações de capital de giro e para aplicações em depósitos a prazo com garantia especial (DPGE, um tipo de títulos de renda fixa) de até R$ 55,8 bilhões.
A redução na exigência de capital dos bancos relacionadas aos DPGE poderia elevar a capacidade de concessão de crédito de até R$ 12,7 bilhões. E redução do requerimento de capital das instituições financeiras de menor porte, tem potencial aumento da capacidade de concessão de crédito de até R$ 16,5 bilhões.
Ainda existe o risco de que seja mantida a distância entre os bilhões anunciados no microfone e os reais que precisam chegar às ruas, mas o Banco Central enfim tenta dar a resposta que empresa de todos os portes esperavam para poder enfrentar a crise com mais expectativa de sobrevivência.
Para Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de estudos e pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), as medidas são positivas, porque liberam recursos, mas o potencial só será atingido se os bancos se sentirem seguros para conceder financiamento:
– Dada a conjuntura atual, em ambiente de grande risco de crédito, o banco só vai emprestar se tiver segurança de que vai receber. E hoje não se sabe se uma empresa vai estar aberta daqui a dois meses, então o banco prefere não emprestar. Por isso, os valores são muito mais uma expectativa do que uma certeza.