Desde que o polo naval naufragou, Rio Grande tenta reorientar os sonhos deixados pela produção em série de plataformas de petróleo. Até o projeto bilionário de uma usina térmica no município desandou de vez neste ano, mas agora uma esperança volta a surgir.
A Ecovix, que abriga o dique seco, rara instalação para a fabricação de embarcações, entrou no radar da chilena Asmar, estatal de administração autônoma focada em construção naval. A Asmar fica em Talcahuano, uma baía a 400 quilômetros ao sul de Santiago.
Os chilenos estudam um acordo de cooperação tecnológica com a Ecovix para a participação no edital de construção do Navio de Apoio Antártico. A embarcação dará suporte à base brasileira no continente, reaberta no início deste ano após o incêndio ocorrido em 2012. O ensaio de parceria tem apoio da consultoria VSK.
Segundo Luiz Fernando Pugliesi, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Ecovix, o navio é um projeto da Marinha que vinha em discussão há pelo menos um ano, quando houve o primeiro levantamento de informações no segmento naval de todo o mundo.
— Agora, houve um chamamento, que se encerra hoje (nesta terça-feira, 30), para buscar interessados em receber o edital para concorrência à construção do navio. Como é um projeto estratégico, de uma área de defesa, é preciso ter uma pré-qualificação para receber o edital, que é já ter construído uma embarcação com essas características. Nos últimos 10 anos, nenhum estaleiro do Brasil tem isso, por isso buscamos a parceria.
Pugliesi explica que a concretização da parceria vai depender do exame do edital. Se as duas empresas avaliarem que ficou dentro das expectativa, vão se unir para disputar a concorrência.
— Mas também podemos chegar a conclusão de que não é para nós — admite.
Exatamente por não conhecer o edital, o executivo não sabe precisar valores. Considera que o prazo regular para elaborar a proposta seja ao redor de 180 dias e que o prazo de construção fique em torno de 20 meses. Nessa lógica, imagina que, se tudo der certo, o contrato pode ser assinado em 2021. Prefere não projetar o número de empregos gerados, também por falta de informação sobre os detalhes do projeto, mas pondera que "daria uma acelerada no mercado local".
Além do dique seco, essencial para a disputa, pondera que a localização geográfica do estaleiro joga a favor, assim como a o espaço que existe em Rio Grande para recebimento de materiais. Pugliesi reforça que o Chile tem grande experiência na fabricação de navios polares. Além disso, se a operação for bem sucedida, vai possibilitar a transferência de tecnologia para o Brasil.