Primeiro, veio a nomeação de um indicado pelo PL para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que tem orçamento anual ao redor de R$ 55 bilhões. Depois, foi a a vez da primeira ofensiva sobre o único superministério que resta no governo Bolsonaro, o da Economia: a desastrosa indicação para o Banco do Nordeste, outra fonte robusta de recursos. Mal conquistou seu primeiro ministério, o das Comunicações, o Centrão dobrou a aposta: quer uma fatia do latifúndio de poder e cargos do ministro Paulo Guedes.
A primeira ofensiva do Centrão nos domínios de Guedes foi a escalação de Alexandre Cabral para a presidência do Banco do Nordeste, apadrinhado pelo presidente nacional do PTB e novo aliado do presidente, Roberto Jefferson. Cabral chegou a tomar posse, mas ficou um dia no cargo. Saiu depois da revelação de que era investigado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por supostas irregularidades na Casa da Moeda, que presidiu de 2016 a 2019, no governo Temer.
Ficou feio, mas obviamente não constrangeu ninguém. A "nova do Centrão" – seria piada, não fosse tragédia – é a recriação do Ministério do Desenvolvimento, a partir do desmembramento da Economia de Guedes, possivelmente com a área de Comércio Exterior. O número de ministérios, que o candidato Jair Bolsonaro prometia cortar para 15, começou com 22 e pode chegar a 25 em poucas semanas: os acréscimos seriam o das Comunicações (já confirmado), o da Segurança Pública (já anunciado) e o do Desenvolvimento. Se parar por aí.
A proximidade com o Centrão foi apontada várias vezes por economistas e analistas de mercado com um dos componentes do que se convencionou chamar de "risco Bolsonaro". Pragmáticos que são, não estão preocupados se os eventuais novos integrantes do governo cumprem o quesito constitucional da probidade (honestidade) para ocupar cargos públicos.
Inquietam-se porque a situação das contas públicas do Brasil já era delicada antes da crise do coronavírus e só piorou com a necessidade de socorrer, ainda que com falhas, pessoas e empresas. Como o Centrão tem pouca identificação com ajuste fiscal e muita com investimentos públicos que rendam votos – para dizer o mínimo –, o foco econômico nessa dança de cadeiras é com o risco de explosão no endividamento. A consequência pode ser inacreditável, como vem alertando o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga: baixo crescimento com elevação de inflação e juro. Era só o que faltava.