O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
A tensão na economia mundial, que já estava em nível elevado, ganhou um componente adicional neste domingo (24). Em declaração à imprensa, o governo da China afirmou que as relações com os Estados Unidos estão "à beira de uma nova Guerra Fria". A troca de farpas entre as duas potências desafia a recuperação internacional após a crise do coronavírus. E isso, logicamente, impacta o Brasil, que já coleciona dificuldades internas.
Em entrevista recente à coluna, o economista Roberto Dumas Damas, disse que o avanço da disputa entre americanos e asiáticos seria "péssimo" para o mundo inteiro. O único benefício para o Brasil, segundo o professor do Insper, seria eventual estímulo à venda de produtos agrícolas para a China.
Em janeiro, as duas potências ensaiaram acordo inicial para encerrar a guerra comercial. Na ocasião, os americanos fixaram uma cota que a China teria de comprar em itens agrícolas. Com o avanço na disputa, essa definição poderia ser deixada de lado, e os asiáticos reforçariam os negócios com outros parceiros, incluindo o Brasil.
Contudo, recentes ruídos com a China, protagonizados por nomes ligados ao governo Jair Bolsonaro, preocupam analistas. A nação asiática, principal destino das exportações verde-amarelas, foi assunto na reunião ministerial de 22 de abril, cuja divulgação ocorreu na sexta-feira (22). Parte dos trechos envolvendo os chineses foi mantida em sigilo. Entre as declarações liberadas, está uma do ministro da Economia, Paulo Guedes:
– A China é aquele cara que você sabe que tem que aguentar, porque, pra vocês terem uma ideia, pra cada um dólar que o Brasil exporta pros Estados Unidos, exporta três pra China.
Após a divulgação da reunião, analistas passaram a temer novo atrito com os asiáticos. Na sexta-feira, a Embaixada da China no Brasil divulgou nota em redes sociais, mas não fez menção direta ao encontro ministerial. O documento relata que os dois países são "parceiros estratégicos globais".
"Ao longo dos 46 anos desde o estabelecimento de relações diplomáticas, as cooperações sino-brasileiras têm alcançado resultados abrangentes em um ritmo acelerado", acrescenta o texto.