Assim como ocorreu com o primeiro dado concreto da indústria, na semana passada, a queda no segmento de serviços, informada pelo IBGE nesta terça-feira (12) foi maior do que se esperava. O tombo de 6,9% em março, na comparação com o mês anterior, é o maior da série histórica iniciada em janeiro de 2011. Em relação a março de 2019, a retração foi de 2,7%, ambas em volume. Associado ao resultado do varejo, que será anunciado na quarta-feira (13), vai provocar uma onda de revisões nas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020, especialmente nas mais moderadas.
O volume de serviços prestados às famílias despencou 33,4%, a maior registrada no mês, impactado pelas medidas de isolamento social que levaram à interrupção parcial ou total do funcionamento de restaurantes e hotéis. Na outra ponta da gangorra, houve aumento de 13,7% no segmento que o IBGE chama de "outros serviços", que veio principalmente da maior receita das atividades relacionadas ao mercado financeiro (corretoras de títulos, administração de bolsas e mercados, agentes de seguros) e saúde e previdência complementar.
Conforme Felipe Sichel, estrategista-chefe do banco Modalmais, o dado mostra "um mês em franca retração por conta do isolamento social que foi amplamente introduzido na metade do mês". O analista lembra que a atividade no setor já estava estagnada antes da pandemia de covid-19 e avalia que a perspectiva é de "acentuação da piora ao longo dos próximos meses".
Para André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, o dado "reforça a perspectiva de queda violenta da atividade já no primeiro trimestre de 2020". Segundo o analista, o resultado "deve forçar uma revisão em nossas projeções", que serão refeitas depois que for conhecido o indicador do setor do comércio, que será divulgado na quarta-feira (13) pelo IBGE.
Além da queda da atividade econômica, as sucessivas crises políticas criadas pelo presidente Jair Bolsonaro começam a pesar nas estimativas de queda no PIB. Na manhã desta terça-feira (12), circula no mercado financeiro um relatório da Gavekal Research, um dos maiores centros independentes (não ligado aos grandes grupos financeiros) de pesquisa de investimentos.
Assinado por Armando Castelar, coordenador de pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas, tem como título "Brazil's Burning House" (algo como a Casa em Chamas do Brasil). Na primeira frase, afirma que "enquanto o presidente Jair Bolsonaro estimula protestos contra o isolamento social, o Brasil enfrenta uma dura crise provocada pela covid-19". Prevê queda de 10% no segundo trimestre, considerado o mais grave no ano, e de 5,5% no ano. E constata:
"Bolsonaro pode enfrentar um impeachment. Para reagir, o presidente procura reforçar suas defesas no Congresso com grupos que são flexíveis em termos de despesas públicas. Essa dinâmica política pode minar o ministro da Economia reformista Paulo Guedes e possivelmente provocar sua saída do governo".