Em fevereiro, a forma mais usual de medir o risco país colocava o Brasil na melhor condição de sua história recente. O indicador conhecido como Credit Default Swaps (CDS), que é uma espécie de seguro contra calotes (default) de credores, havia caído abaixo de cem pontos. Era o mercado internacional avaliando o efeito de alívio nas contas públicas brasileiras com a reforma da Previdência e o compromisso com novas reformas do governo federal.
Bastaram 19 dias de março para que a confiança na capacidade do Brasil de reformar seu futuro fosse minada. A pontuação relacionada ao títulos da dívida brasileira dispararam para 375, o ponto mais alto dos últimos seis meses, mas também o maior desde o governo Temer. Foi no dia em que presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que Jair Bolsonaro é seu "aliado número 1" ao responder perguntas sobre a atitude do brasileiro de se expor e expor cidadãos de seu pais a risco, estimulando aglomerações e contato físico.
Desde estão, a avaliação do risco do Brasil até cedeu para a faixa pouco acima de 200 pontos, mas retomou a altitude dos 300. Como todos os grandes problemas, não é causado apenas por um motivo, mas resulta da combinação de vários. O principal é a conta na ponta do lápis: como em todos os países, a arrecadação do governo federal caiu e as despesas aumentaram. A estimativa do Ministério da Economia é de que o endividamento suba dos 75,8% do PIB, como fechou em 2019, para pouco mais de 91%.
Os outros dois componentes estão ligados à crise política. Um é percepção de falta de coordenação no combate ao coronavírus. Quanto mais alinhado é o esforço, melhores resultados produz e, portanto, ameniza o impacto da pandemia na política. Trocas em dois ministérios e sucessivas crises com os poderes Legislativo e Judiciário em plena emergência sanitária cristalizaram a imagem do Brasil no Exterior como um país problemático, para usar linguagem educada.
Nas últimas semanas, outra inquietação se somou às anteriores: a de que o compromisso com a disciplina e a austeridade fiscais poderia ser ao menos flexibilizado em nome da conveniência política. As dúvidas sobre a permanência do ministro da Economia, Paulo Guedes, passaram a ser abordadas abertamente no mercado financeiro, de onde sai boa parte da informação que alimenta esse tipo de indicador.