Foi uma espécie de despedida do embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, aos gaúchos a reunião-almoço virtual realizada pela Câmara Brasil-Alemanha no Rio Grande do Sul nesta segunda-feira. Ele volta a Berlim até julho. Fez um relato invejável da situação de seu país no combate à crise: a perda de arrecadação e o custo das medidas de apoio vai levar o endividamento de 60% para 80% do PIB. Mas repetiu por duas vezes, em clara menção à situação instável no Brasil:
– É importante que na Alemanha não há conflito entre governo federal, Congresso, Supremo, etc. Existe cooperação entre essas instâncias de Estado que funciona bem, para que o governo federal e o Legislativo aprovem medidas de maneira rápida, emergente e apropriada – frisou.
Witschel fez questão de advertir que, depois da crise, discursos protecionistas serão "mais audíveis". Segundo o embaixador, haverá manifestações sobre o excesso de dependência das cadeias de produção globalizadas e de que é preciso fechar os mercados.
– Como alemão, gostaria de argumentar contra essas ideias. Não faz sentido reduzir a integração econômica no mundo, porque foi assim que conseguimos avançar até agora.
Perguntado sobre a nova posição da Argentina diante das negociações do Mercosul com outros países e seu impacto no acordo entre Mercosul e União Europeia, Witschel preferiu não usar linguagem muito diplomática. Admitiu que há "problemas" no Parlamento do país para aprovar o tratado, por conta dos "problemas do desmatamento" – referência clara ao Brasil – e confessou a dificuldade de entender a posição argentina:
– Não sei como será possível. Com esse último tango argentino, com um passo atrás, outro adiante, não tenho uma resposta (sobre o futuro das negociações com o bloco).
Witschel afirmou que a crise do coronavírus é "o maior desafio para a Alemanha e, com certeza, também para o Brasil":
– Como disse nossa comandante suprema Angela Merkel, essa crise superou tudo até hoje, mesmo a crise financeira de 2008/2009, que foi bem pior na Alemanha do que no Brasil. Vamos esperar que, após a crise, a Alemanha possa se recuperar mais rápido do que outros países. Seria ingênuo acreditar que todas as empresas e todos os empregos serão salvos, mas temos o compromisso de lutar por todas as empresas saudáveis e todos os empregos. Nossos hospitais estão funcionando, não houve superlotação, sistema não foi sobrecarregado. Estamos implementando as primeiras flexibilizações, abrindo lojas, porque as fábricas continuaram a trabalhar. Porém temos já problemas, porque a taxa de infecção está subindo pelo segundo dia, de 0,76% a 1,13%. Não sabemos se haverá uma segunda onda. Oxalá não aconteça, mas abrir é mais difícil do que fechar.