O preço negativo, que surpreendeu o mundo na véspera, não se repetiu, mas as cotações do petróleo voltaram a desabar nesta terça-feira (21) nos mercados internacionais. Os contratos de junho do tipo WTI, referência americana, desabaram 43%, enquanto os do brent, indicador global, caíram 24%. As inquietações envolvem o risco de esgotamento da estocagem, previsto para o final de maio. Conforme a consultoria independente Rystad Energia, restaria capacidade de 400 milhões de barris, que a um ritmo de acréscimo de 26,5 milhão ao dia, seria tomada em duas semanas.
Como petróleo não é café, e não pode ser queimado, para evocar a ordem de Getulio Vargas para incendiar estoques do produto na Grande Depressão dos anos 1930, a única alternativa é cortar produção, avalia o ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) Décio Oddone:
– É claro que não existe mundo em que o preço do petróleo é -US$ 40 (mínima alcançada na segunda-feira para os contratos de maio do WTI) e pagarão para abastecer nossos carros. É uma anomalia.
Oddone lembra que o acordo entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e o G20 prevê corte de 9,7 milhões de barris a partir de 1º de maio. Se ainda há sobra de 26,5 milhões, pondera, será necessária uma redução maior para aproximar a produção da demanda. As consequências serão duras, avisa o especialista:
– Vai ser horroroso para a indústria, vai haver muita reestruturação, corte de investimento, custo, contrato, emprego, tudo para preservar caixa.
Para a Petrobras, o impacto também vai chegar, mas Oddone lembra que o preço de equilíbrio para a produção no pré-sal caiu de cerca de US$ 60 para perto de US$ 20 por barril, enquanto o do shale oil americano foi de US$ 80 para US$ 40, sempre em média.
– Isso foi resultado de tecnologia e inovação. Se me dissessem, há 10 anos, que o custo da produção no pré-sal poderia chegar a US$ 4 por barril, iria achar que era piada – diz o especialista.
A maior incerteza, além do armazenamento no curto prazo, é como se dará a relativa normalização desse mercado:
– A grande questão é quanto da demanda vai voltar. Dentro de seis meses, um ano, será que as pessoas ainda vão viajar tanto de avião e usar muito transporte coletivo? – indaga.
A resposta só virá com o tempo.