Maior empresa do segmento de medicina diagnóstica na América Latina, com operações em Brasil, Argentina e Uruguai, a Dasa tem um plano ousado: implementar a maior operação de testagem de covid-19 no mundo, fazendo 3 milhões de exames de RT-PCR nos próximos seis meses. Esse esforço, cooordenado pelo Ministério da Saúde ainda na gestão de Luiz Henrique Mandetta, não é comercial: a empresa vai processar os testes gratuitamente. Para isso, a Dasa alugou um imóvel em Alphaville (SP), que terá equipamentos cedidos por outras empresas e pelo ministério, que também fornecerá insumos, com reagentes, para os testes. Diretor-médico da Dasa, Gustavo Campana relata os detalhes do plano nesta entrevista à coluna.
Como nasceu esse projeto?
Em janeiro, Começamos a discutir o desenvolvimento de testes RT-PCR para a Dasa, em parceria com a USP. Ficou clara a falta de estoque e passamos a ver o que poderia fazer realmente para ajudar o todo. Começamos a falar com o Ministério da Saúde entre o final de fevereiro e início de março, envolvendo vários outros laboratórios. Entendemos que poderia usar nosso porte, nossa capilaridade (800 unidades no Brasil) para ajudar. Houve muitas conversas até chegar a esse chamamento de ampla testagem, para todo o país, e, como doação, operar essa infraestrutura.
Como vai funcionar o centro de testagem?
Alugamos um espaço (em Alphaville, SP) e começamos as obras do Centro de Diagnóstico Emergencial. Estamos recebendo equipamento e insumos do Ministério da Saúde e vamos bancar a mão de obra necessária. Nos próximos seis meses, queremos alcançar 3 milhões de testes RT-PCR. Mas não é um projeto da Dasa, é do Brasil, para o qual estamos contribuindo. O principal objetivo é obter dados, fazer mais diagnósticos, para gerenciar melhor essa pandemia. Terminado o período de emergência, o equipamento será doado para reforçar a estrutura dos laboratórios públicos.
Esses equipamentos e insumos estão chegando, já que é difícil comprar?
Várias outras empresas e bancos estão doando ao Ministério da Saúde, e estamos trazendo equipamentos de laboratórios e instituições públicas que não estão sendo utilizados agora, por estarem ociosos. Nesse caso, são cedidos temporariamente para reforçar a estrutura. O ministério já fez compras de reagentes no Exterior e, no Brasil, Fiocruz e Biomanguinhos aumentaram muito suas produções.
Em que prazo os testes podem começar?
Devemos começar a operar o centro em três ou quatro semanas, já fazendo diagnósticos. Nesse prazo, devemos começar fazendo cerca de 10 mil testes ao dia, e em seis a oito semanas queremos estar fazendo 30 mil exames ao dia.
E vai alcançar todo o Brasil?
A ideia é testar capitais e regiões metropolitana, e alcançar a capilaridade que a gente conseguir. Mas todas as áreas vão ter algum foco em outras iniciativas do ministério.
Um dos objetivos é subsidiar decisões de flexibilizar o isolamento?
Esse centro de diagnóstico é parte de um projeto maior do Ministério da Saúde que vai trazer respostas. Como temos poucos testes disponíveis, há preocupação com subnotificação. Essa ampliação vai começar a trazer respostas a várias perguntas que temos hoje. Vamos conseguir ter indicadores melhores para tomar decisões.
Como um profissional de saúde muito envolvido com o monitoramento da doença, como vê esse momento? Chegamos ao pico, é o momento certo para relaxar a quarentena?
Há muita diferença entre regiões, mas na média ainda estamos em fase de aceleração. Vai alcançar o pico em curto tempo. Isolamento é gestão. Solta, se voltar a se agravar, retorna. É assim em epidemia, a volta imediata à vida normal não existe. É preciso agir de forma planejada, coordenada, respeitando a regionalidade. O foco do isolamento, sempre é bom lembra, é garantir que haverá estrutura de saúde para atender a todos que ficarem doentes.