Não foi a imprensa que o presidente Jair Bolsonaro desrespeitou ao transferir a um humorista a responsabilidade de responder a perguntas sobre o desanimador resultado do PIB de 2019. Foi a população brasileira. Crescimento medíocre adia investimentos e atrasa contratações. Retarda a perspectiva de melhora de vida de cidadãos angustiados há cinco anos, desde a estagnação de 2014.
Além da alta tímida de 1,1%, já esperada, o pibinho de 2019 embute indicadores específicos de desalento. Um é a queda nos investimentos , outro, a desaceleração no consumo das famílias, que havia subido 0,7% no terceiro trimestre, mas encolheu para 0,5% no período de outubro a dezembro, mesmo com a liberação de recursos do FGTS.
Se a cereja do bolo é o ponto positivo em quadro favorável, o Brasil enfrenta seu oposto: além da perda de ritmo interna, há choque externo fervilhando lá fora, na China e no mercado financeiro.
Depois do PIB fraco e da onda de desbastes nas previsões de crescimento, o dólar teve a maior alta diária desde a nova fase de turbulência global. A combinação entre PIB sem força e o impacto do coronavírus fez várias instituições financeiras cortarem suas projeções para o crescimento do Brasil neste ano. O Citi Brasil reduziu 2% para 1,6%, o Santander ainda não oficializou o novo número, mas estima entre 1,6% e 1,7%.