Um dos países que mais se beneficiaria de avanços para conter as mudanças climáticas, o Brasil esteve no grupo que protagonizou o impasse durante a 25ª Conferência do Clima (COP 25) da Organização das Nações Unidas (ONU), encerrada domingo em Madri. Apesar de problemas recentes, dados e fatos relacionados ao ambiente ainda representam um ativo para o país. Rubens Ricupero, diplomata que começou a construir a imagem do Brasil como líder ambiental global, lamenta:
– O Brasil foi o país que mais atrapalhou as deliberações. Além de destruir seu próprio prestígio, isso não deixará de ter efeito pernicioso no comércio exterior e na atração de investimento. As grandes empresas internacionais são cobradas por seus acionistas para ter política ambiental responsável e exigir isso de seus fornecedores. As bolsas de valores têm índices de sustentabilidade, muito valorizados. Infelizmente, avançamos no caminho do isolamento e da perda de prestígio.
A título de consolo, Ricupero observa que, daqui para a frente, avanços em política ambiental devem decorrer não tanto de negociações multilaterais, como as COPs, mas a partir de grupos menores ou iniciativas de outros centros de poder, como o econômico.
– Não vou dizer que me tenha surpreendido. A postura brasileira é sistematicamente obscurantista em todos os fóruns, como no Alto Comissariado de Direitos Humanos, quando o Brasil votou a favor de todas as resoluções contra os palestinos, até em algumas das quais outros países de direita, como a Hungria, se abstiveram, e na Assembleia-Geral da ONU, quando três países – Brasil, Estados Unidos e Israel – se opuseram aos outros 186 no apoio ao boicote a Cuba. É um padrão que se deve esperar daqui para a frente, com danos à imagem brasileira no Exterior. Cada uma dessas ocasiões acrescenta uma demolição a nosso patrimônio nas áreas de direitos humanos, multilateralismo, ambiente e política de gênero.
Na semana passada, lembra, a União Europeia lançou seu European Green Deal, uma política comum para 27 países que prevê redução das emissões de gás carbônico não mais de 30%, como previsto, mas até de 50%, tentando zerá-las até 2050. Para isso, terá um fundo de 100 bilhões de euros, para ajudar especialmente os países com maior dificuldade na reconversão econômica, especialmente os do Leste Europeu. Essa iniciativa vai fixar padrões que terão de ser alcançados por países que querem vender ao bloco europeu pondera, lembrando que a UE é o segundo maior mercado dos produtos nacionais.
– Se, no futuro, fixarem dispositivos que penalizem países com política ambiental negativa, o Brasil vai correr risco de perder mercado – pondera.
Ainda que no futuro essa postura mude, argumenta, vai custar para retomar a credibilidade perdida pelo que chama de " desmantelamento".